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quinta-feira, 19 de julho de 2018

BRAZIL SEM PROVIDÊNCIA...VIDA QUE SEGUE.


PALESTRA INSÓLITA
Marina da Silva

Sexta-feira e cismei de assistir uma palestra; resquícios de calouro e curiosidade com o tema da discussão: Estado do bem estar social no capitalismo contemporâneo. A exposição começou tipo aulão, longa e entediante. Olhei para o lado e minha amiga escrevia algo para passar o tempo num envelope pardo. Pedi para ver e me surpreendi com o que estava escrito: um inventário de medicamentos antidepressivos:
Tryptanol
Anafranil
Tofranil
Ludiomil (p q p*)
 Paroxetina ( Pondera, Cebrilim, Aropax)
Fluxetina (Prozac)
Bripropiona
Venlafaxina
Sertralina
Donarem
Survector
Citalopran
_ Que é isso? Escrevi no envelope, passei despistadamente a ela e iniciamos uma palestra insólita.
_ São todos os medicamentos que tomei até hoje. E escreveu entre parênteses uma sigla no medicamento Ludiomil.
Peguei o envelope e acrescentei no mesmo medicamento uma frase: “Não vou nada bem”! Sô Jorge
Ela confirmou no medicamento abaixo: também pondera!
Lá no palco continuava a exposição sobre o estado providência - como o chamam os franceses - e a justificativa do seu aparecimento no pós- II Guerra Mundial sob a luz de três enfastiantes teorias: da convergência, do neo-marxismo e do neo-institucionalismo.
_ O que você pensa de toda essa porcaria? Passei-lhe o envelope.
_ Eles não me deixam pensar...
_ Ainda bem né! Senão a gente dá um tiro... no pé ou na cabeça!
O debate começou e logo de cara se politizou numa guerra fria: na direita lulistas e na esquerda tucanistas. Dardos e farpas eram lançados dos dois lados.  E o envelope passava rápido de lá pra cá e vice-versa tal qual os artefatos bélicos da contenda.
A polêmica foi engrossando:
_ Comecei em 2002, primeira sessão de quimio, mas só usei Sertralina e Venlafaxina.
_ Sou quase viva... Já morri. Salto do Acaiaca, o tombo tem que ser grande! Tenho cabeça dura e 7 vidas... Sou uma gata!!! rsrsrs
No salão a querela se prende à proteção social no Brasil.
_ Ela existiu?  Alguém pergunta baixinho atrás de mim.
_ Acho que sim. Respondem-lhe - ou entendi errado ou parece que houve aqui uma variante do estado providência. Suspeito que eu ainda não tinha nascido.
 _ O programa bolsa-família dá ao governo o status de providente? Ou é mera farsa eleitoreira para reeleição do partido?
Percebo que há mais alunos e sapos do que juristas e advogados. As perguntas e respostas são sapecadas na cara de reclamantes e reclamados.
Chega até nós a contenda da vara de pescar e dos peixes, do imediatismo e do oportunismo, do não fazer nada ou fazer qualquer coisinha. Explodem gargalhadas na mesa dos convidados. Perdi algo?
_ E agora? Quem poderá nos salvar?
_ O super homem morreu. E aí?!!!?
_ Eu me tornei a MM, a heroína conhecidíssima de nossa pessoa: a Muié Marmota!
_ Não temos cintos de utilidade como o Batman, pena! Eu tenho uma Bat-caixinha de Lexotan e Venlafaxina.
_ Eu um Bat-caixão!
_ Melhor escrever kaichão néh!
_ Sim, sim! O papel acabou, a merda não.
Escrevemos em ambos os lados do envelope. A palestra estava boa, então resolvi rasgar o danado para escrevermos na parte de dentro.
_ Não faz isso! Vai fazer um barulhão...
Comecei a rasgar o envelope e realmente fez barulho, peguei o lápis e saí abrindo as laterais. Quatro distintos senhores "enternados" a nossa frente moveram-se em suas poltronas sem olhar para trás.
_ A curiosidade matou o gato! Pensei sorrindo.
_ He, he, he...Muié Marmota! Passei-lhe o envelope.
_ He, he, he... ô vida + ou -. Antes minha mãe não tivesse me...tido! rsrsrs
_ Sabe o nome da palestra?
_ É muito para o meu cérebro. Só do palestrante, muito bom: Dr. Honoriscausa Riso. Palhaço.
_ É estado do bem estar social! Pena que não é bem estar mental. Néh?
_ Os homens lá na frente riram quando falavam do impacto positivo do bolsa-esmola? Oops! Bolsa-escola! Não, bolsa-família?
_ Isso é triste, mas quem sabe muda.  Enquanto você estuda e cresce eu vou retrocedendo e vou lavar só marmita, mas só enquanto  eu der conta, depois não sei...aposento.
_ Viva as marmitas! Estabilidade, 30 horas semanais, vale-transporte, vale-refeição e o mais importante: salário e bem estar social!
_ Adoro o vale-comida, adoro comer. Sinto falta dos papeizinhos. Eu comia e ficava cheia, agora eu como o dinheiro e não tem graça! Virou emenda de salário.
_ Você ouviu? A Suécia é o melhor lugar do mundo! O estado Providencia tudo e a todos que têm tudo e ainda tem gente cara-de-pau que falta ao trabalho? É o maior índice de absenteísmo do mundo!
_ E por quê? Perguntou o doutor.
_ Porque o trabalho adoece? Um engraçadinho na mesa.
Não é a resposta pedida.  A resposta correta era: o problema é excesso de proteção social, aí tem que dá uns cortizinhos nos benefícios para estimular os folgados e botar os caras para trabalhar. Flexi-segurança.
_ Tá me cheirando fim dos direitos trabalhistas e fim da Justiça do Trabalho. Estamos ferradas.
_ He, he, he...  e eu é que sou a Muié Marmota?
_ Mas eu trabalho tão pouco! Eu devia me chamar Maria Saúde Saudável.
_ Faltou o "he, he, he"!
_ Ainda tá valendo? He, he, he.
_ Que papo é esse?
_ O nosso?
_ Também. Que negócio é esse de estado mínimo? Já pensou se for a mesma lógica do salário: o mínimo para sobreviver?
_ Credo! Fica fácil demais. A gente não tem Bin Laden, mas olha a obra do PCC!
Achamos um ponto de acordo entre nós e eles: o assunto agora é São Paulo e o PCC- Primeiro Comando da Capital do narcotráfico.
_ Viu porque tem que ter um mínimo de estado?
_ Eles estão rindo de quê meu Deus? Esse assunto não é sério?
Impera agora uma guerrilha direitista na platéia: alunos da PUC versus alunos da UFMG. Advogacia do diabo.
Já passam das dezessete horas e ainda tem cobras e lagartos. Nós, a turma das tarjas-pretas, eles a gang dos faixas-pretas! O palestrante alfinetando uma lourinha marxista marxiana genérica, falsificada diz que o ministério da saúde devia colocar um aviso numa determinada revista: olha “VER”, ler essa revista continuamente pode causar danos cerebrais irreversíveis! Risos à direita e à esquerda.
_ Grosso! Brutossauro-rex! Quase penso alto.
O envelope me é tirado das mãos e volta com a frase:
_ Que tal um título para isso daí? Lembrei MMSS e MMII.
_ Translate please.
_ Enfermagem, está no subconsciente: membros superiores e membros inferiores.
"Quase dezoito horas senhores meritíssimos e meritríssimos juizes, advogados, alunos defensores de quaisquer estados, desde que não o do PCC". Quero informá-los.
_ Se não fosse o certificado para meu filho...
_ Pensei que era Muié Marmota Superior e Muié Marmota Inferior!
_ E esse título: Momento ou instante tarja-preta?
_ Venceu!  É guerra isso tudo aqui. Ô povinho ranheta! Rivotril neles.
Três horas e meia após o início da pendenga, chega-se a conclusão que é necessário uma discussão mais profunda noutra ocasião. Isto porque o danado do doutor se confessou lá na mesa não estar munido e aparatado (cientificamente) para discutir um assunto assim tão complicado numa tacada só!
_ Mas mesmo assim deu varada em todo mundo né!!
_ Não foi tão ruim assim! Estou sendo boazinha?
_ Difícil vai ser explicar em casa esses hematomas no corpo todo.
_ kkkkkkkkkk    

*****
OBS.: Em homenagem a minha inesquecível amiga Rô. Saudades eternas.                              
 

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