BOCA DO INFERNO
Marina da Silva
“(...) o bem-estar de
nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados de fora _ é a
maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”. E.
Galeano.
Era assim conhecido o
poeta barroco, nascido na Bahia em 1636, Gregório de Mattos e Guerra. Não tinha
papas na língua nem meios termos nem condescendência com a miséria humana da
sociedade de sua época.
Sua pena ferina não
poupava ninguém: padres, governantes, negros, brancos, ricos, pobres, escravos,
senhores, homens e mulheres que chafurdavam na lama da corrupção,
promiscuidade, roubos, falcatruas, licenciosidade, ignomínia.
Sua boca zombava e
denunciava de forma crua e escancarada toda a safadeza e torpeza da vida
social, econômica, política e eclesial da Bahia de seu tempo.
Engenhosa, ácida,
cortante, sua língua desferindo golpes precisos ia desvelando iniqüidades,
roubalheiras, rasgando o véu hipócrita que acobertava a podridão de políticos,
clérigos, freiras, mulatos, prostitutas. Gregório não poupa ninguém!
E é exatamente um Boca do inferno que não se verga, não se vende, não se põe de
quatro nem se ajoelha aos poderosos donos do Brasil, caciques e coronéis da
política que fazem não só de Brasília, mas do país inteiro um imenso puteiro, um
antro de ladrões, larápios, carniceiros, que necessitamos com urgência
urgentíssima. Contra esta canalha, Guerra!
Nunca Gregório foi tão
preciso e tão atual para desancar e destronar estes políticos corruptos, essa
gentalha infame, salafrários, velhacos, empoleirados luxuosamente, desviando
verbas de obras públicas, fraudando eleições, licitações, recebendo e pagando
propinas, cedendo favores espúrios para aliviar dívidas de empreiteiros,
cervejeiros, usineiros, banqueiros e muitos outros biltres como eles;
condenando milhões de cidadãos brasileiros, a mais vil e desumana miséria, a
uma pobreza extrema e vergonhosa que desmoraliza, enfraquece o espírito,
desanima!
Do mais profundo inferno
gritaria o poeta: indignidade, corrupção, roubo, promiscuidade não são
sinônimos de falta de decoro, parlamentar! São abomináveis crimes contra a
nação e seu povo e como tais devem ser punidos rigorosamente em nome da
justiça, da ordem, do Estado, da honra.
Ladrão é ladrão,
corrupto é corrupto, velhaco é velhaco e todos devem ser destituídos do poder e
postos a ponta-pé para fora do parlamento brasileiro, do judiciário, da
administração do país sem direito a volta por qualquer tipo de manipulações,
manobras e maracutaias.
Qual representatividade
que nada! Diria Gregório de Mattos. Eleição é uma farsa, a democracia uma
enganação! Políticos imbecis, cretinos, cafajestes, tratam os cidadãos como
asnos, gado sem nenhum valor além do fato de referendar, pelo voto, seres
ignóbeis, vermes abjetos e sua política de bandalheira, roubalheira e
sacanagem.
Gregório de Mattos e
Guerra não só não se calaria como destilaria todo um arsenal de verdades nas
fuças destes nojentos indignos e desprezíveis que mancham um povo e sua nação.
Não perdoaria as festas,
manifestações de apreço e desagravo compactuando com o indigno, não os
toleraria desfilando na mídia com suas esposas, amantes, partidários, aliados,
comparsas, sorrindo e debochando dos cidadãos, vilipendiando e fazendo pouco de
um povo e de um país rico, imenso e que vive um momento memorável, uma enorme
potencialidade de crescimento econômico e social a deslanchar neste século XXI
que apenas começa a florescer.
Desgraçados, hipócritas,
idiotas! Bradaria Gregório. Não passam
de políticos 1,99, de quinta categoria, uns celenterados incapazes de entender
este momento, entender o seu tempo, as possibilidades reais de desenvolvimento
do Brasil, por estarem imersos em querelas mesquinhas por migalhas de um
ilusório poder, brigas partidárias, manipulações de banqueiros, cegos para
qualquer coisa para além de seu cercado, da ração diária, das fezes que dia
após dia defecam. Não sabem governar suas latrinas e se arvoram a mandar no
Brasil inteiro.
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