ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE...
www.google.com.br/images
Marina da
Silva
Lembro-me
como se fosse hoje, o nó na garganta, uma coisa esquisita revirando meu
estômago, um sentimento inexplicável, dilacerante que me veio ao ler uma
poesia, se não me falha a memória, de Manoel Bandeira, um canto de indignação,
consternação e perplexidade ao ver um bicho estranho revirar o lixo, fuçar e
comer coisas do lixo e constatar que aquilo, o bicho, na verdade era um homem.
Nunca
mais fui capaz de ler tal poesia e nunca mais a esqueci. Era pesada, sombria
demais para uma menina quase adolescente que vivia na lua. Minha alma ficou
marcada para sempre e um medo terrível de ser transformada assim, de homem em
bicho me acompanha pela vida.
Mas não o
medo das ausências materiais, medo de viver no lixo e do lixo como atualmente vivem milhões de homens, mulheres,
idosos, crianças, grávidas espalhados pelos quatros cantos do mundo.
Marginalizados,
seres humanos vivem espúria e precariamente, salvando o planeta catando,
comendo, reciclando lixo e perdendo a cada segundo sua humanidade; as
potencialidades humanas travadas, impedidas, roubadas na exploração predatória
da ditadura capitalista.
Foto Marina da Silva. Catadora de recicláveis.Brazil
Milhões e
milhões de seres humanos relegados à extrema miséria num mundo onde o poder, o
potencial humano rebrilha de forma inimaginável.
Nunca o
homem foi tão grande, nunca a capacidade humana foi tão exponencial, nunca as
forças essenciais humanas foram tão refulgentes como na atualidade, mas também
nunca a miserabilidade, a desumanização do ser do homem atingiu proporções tão
gigantescas, grotescas, bizarras e escatológicas.
O mesmo
ser que produz riquezas materiais impensáveis trinta, quarenta anos atrás, produz
arrasando o humano, a humanidade dos homens, transformando-os em seres
inqualificáveis, inferiores até mesmo aos bichos.
http://exame.abril.com.br/30/05/2016
"(...)o Brasil tem 161,1 mil pessoas submetidas à escravidão moderna – em 2014, eram 155,3 mil. Apesar do aumento, a fundação considera uma prevalência baixa de trabalho escravo no Brasil, com uma incidência em 0,078% da população."
Homens que
para garantir a mera sobrevivência e acima de tudo a dignidade e a honra de
permanecer na espécie humana se sujeitam às condições de trabalho desumanas, escravo de relações
abjetas que garantem a reprodução cada vez maior, intensa, global de um mundo
de valores invertidos.
Um mundo
produtor de mercadorias cada vez mais sem sentido de uso, de utilidade corrosiva e degeneradora dos valores humanos e da busca por uma humanidade
outra em que a lógica da produção não destrua sua principal razão de existência: mulheres e homens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário