Escrito em 13-11 de 2009
O QUE É SER FRANCÊS?
Marina da Silva
Um desavisado até poderia pensar
que esta polêmica levantada por Nicolas Sarcosy, o controverso Francês dia
02-11-09 sobre identidade nacional é nova, surgiu de uma hora para outra do
meio do nada! Engana-se! Há séculos este tema se coloca para a humanidade. Desde
os primórdios da conformação dos estados modernos e mesmo antes, passando pela
afirmação do nacionalismo romântico do século XIX, chegando ao extremo nos
regimes fascistas – com destaque para o nazismo na Alemanha - até a onda nacionalista
na desintegração do mundo socialista iniciada com o desmanche da antiga União
soviética e seus aliados do leste europeu.
A globalização mundial atual
convive com paradoxos como as guerras nacionalistas, os movimentos separatistas
e a formação de mega-blocos, super-estados com estruturas econômicas/políticas comuns: União Européia, Nafta (EUA, Canadá,
México), Mercosul, etc.
É neste contexto do fenômeno da
globalização e da revolução tecnológica e com cerca de 8 milhões de imigrantes (muitos
destes indocumentados, ou seja, ilegais) que Sarcosy quer resgatar a “identidade Nacional Francesa” através de um debate sobre “O que significa ser
francês hoje.”
Apelar para a “galicidade”, para
a identidade nacional recheada de elementos xenofóbicos não é privilégio de Sarcosy.
Lançar mão do nacionalismo é uma velha tática política em momentos de aflição
nacional. A língua, o hino, a bandeira, a moeda, o exército, a fronteira
nacional e vários outros símbolos forjaram ao longo da história a construção
das “identidades nacionais”.
Estratégia para as eleições
regionais na França que ocorrerão em dois turnos (14 e 21 de marços de 2010)?
Cortina de fumaça para camuflar a crise econômica: déficit público crescente,
desemprego, retração do PIB, imigrantes ilegais?
O que está por trás desta
estratégia? Resgatar e fortalecer os ideais da República e o orgulho de ser e
falar francês- defendem os aliados políticos de Sarcosy.
Abafar escândalos e angariar a
simpatia e o voto dos ultra direitistas nas próximas eleições! Acusam os
adversários.
Em comum entre eles somente um
ponto: o tema identidade nacional é PERIGOSO!
O jornal Le monde abriu uma
votação na internet: “Pour vous, Le débat sur l’identité nationale est um
débat:
- Noble
- Ou dangereux
- Ni l’un, ni l’ autre
- Sans opionion.
53.5% dos votantes acham
perigoso; 25.9% nem um nem outro; 18.6% nobre; 2.1% não têm opinião. E por que
o tema é perigoso? Porque o mundo, Europa inclusa, passa constantemente por
sucessivas ondas migratórias e na atualidade, a acumulação capitalista flexível
induz e produz estas ondas como forma de baratear o custo da produção se
valendo cada vez mais (entre outras) de formas precárias de trabalho a que se sujeitam os imigrantes (legalizados
ou ilegais) em fuga da miséria em seus países de origem, em busca de uma vida
melhor ou desterritorializados por guerras, perseguições ou catástrofes
ambientais. Como todo você decide as opções já estão dadas
e se tal for uma amostra do grande debate proposto por Sarcosy só resta incluir
nos símbolos da identidade nacional francesa, a Seleção Francesa de Futebol!
Mas o próprio jornal, leitores e
comentadores advertem que a identidade nacional só pode ser debatida em toda a
sua complexidade e na sua multidimensionalidade.
A formação dos grandes blocos
econômicos, como o grande Estado Europeu da
UE exige um debate sobre a integração geral, especialmente dos grandes
contingentes de imigrantes. Sarcosy se põe na contramão dos fenômenos
alavancados pela globalização e as respostas as questões atuais, inclusive sobre
identidade nacional não podem se prender a xenofobia e racismos que
estratificam e confinam as pessoas em castas: cidadãos de primeira, segunda,
terceira classe ou párias, marginalizados e tratados como escória da
humanidade.
A França não merece esse
sarcosysmo reacionário e lambão de plantão. E muito menos pode franquear este
modismo, uma tendência retrô revisitando e reforçando em pleno século XXI a
ditadura do nacionalismo.
Ser francês, alemão, brasileiro, turco,
senegalês está para além de símbolos, língua, hinos e muito acima do estado
forjado para cada país. Só um debate é possível e pertinente: o da integração
em todas as suas dimensões sociais, culturais, políticas, econômicas,
religiosas, ideológicas.
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ResponderExcluiryou are teaching million of people great techniques.
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