EU
NUNCA FUI...
Marina da Silva
BARBIE.
Nos tempos de infância, brincando com bonecas de pano e no Natal ganhando boneca "tomba-homem" eu aprendi a sonhar com a Boneca. Não a boneca Barbie, mas com a Boneca, apelido da filha de uma prima da minha mãe que chamávamos de tia; Boneca já adulta, mulher feita, tinha uma linda coleção de Barbies. Boneca morava e trabalhava na capital com sua grande família, uns quatorze membros, fora o pai e a mãe. Nunca conheci a Boneca, mas adorava ouvir a estória sobre a linda moça e sua linda coleção de bonecas Barbies, um sonho que realizou adulta e dona do próprio dinheiro. Quando minha mãe vinha à capital, geralmente em casos de saúde, ela visitava a casa da Boneca que fazia questão de mostrar a última aquisição de sua coleção. Uma mulher adulta que sonhava em ter Barbies quando criança, mas os pais não podiam lhe comprar. Eu sempre imagina a prima Boneca criança e sonhando com a Barbie:
“Quando crescer vou
comprar a Barbie”.
Para famílias numerosas
como as nossas, minha mãe tinha dez crianças - seis meninas e quatro meninos - ter comida
no prato todo dia era o sonho de consumo. Barbie era um luxo, um sonho impossível
de virar realidade. Eu tinha bonecas de pano e de plástico, mas havia bonecas
de papelão e de louça, conheci algumas. Acredito ter sido a primeira a ganhar
uma boneca, aliás, um boneco, um homenzinho de uns cinquenta centímetros
chamado Roberto Carlos. Ganhei de uma tia, irmã mais nova de minha mãe quando a "raspinha-de-tacho" nasceu. Roberto Carlos, mas eu o chamava de Bebé, veio
vestido e calçado: calças de brim cinza e blusa xadrez e sapato preto. Tinha
cabelos pintados na cabeça, cheio de caracóis castanhos. Minhas bonecas eram de
pano e vinham da mesma manufatura: retalhos e sobras de tecidos das costuras de
minha mãe. No Natal ganhávamos “bonecas tomba-homem” feitas de plásticos. Na
verdade, eram bebês sem sexo definido; vinham com fraldinhas xadrez azul e
branco de plástico de encapar cadernos, brincos de alfinetes dourados ou prata,
tinha mamadeirinha, chupeta, pentinho para cabelos. Eram feitas de um plástico
muito rosa e duro e vinham com os bracinhos para cima e as perninhas tortas
como as do atacante do futebol Garrincha. Alguém, só de pilhéria, as apelidou de
bonecas “tomba-homem”. Tive outra boneca de plástico, uns trinta centímetros,
que tinha a cabeça e os membros adaptados no vestido. O vestido da minha era
vermelho e da "raspinha-de-tacho" era amarelo. O cabelo da boneca não era de
verdade, elas vinham com um coque e boca pintada de vermelho e olhos também
pintados, mas os sapatos eram de verdade, branquinhos.
Aos nove ou dez anos
veio a menarca, virei mocinha e adeus bonecas. Depois só estudos e trabalho de
carteira assinada. Conheci a Barbie nas propagandas de TV sentada no alpendre
de uma vizinha que nos permitia ver televisão, menos quando o marido vinha da
roça nos finais de semana. A televisão era o sonho em várias prestações de muitas famílias e em 1976,
talvez, meu irmão mais velho presenteou minha mãe com uma, preto-e-branco. Minha
irmã mais velha, casada, comprou televisão a cores também. Barbie me chamava a atenção
por dois motivos: primeiro pelo sonho da prima Boneca que ampliava a sua coleção de
Barbies a cada ano; o outro motivo era tudo que aquela boneca permitia uma menina
pré-adolescente sonhar. Barbie não era apenas uma bonequinha de uns quinze centímetros bonita com roupinhas, acessórios e cabelos de verdade. Ela podia
tudo e fazia tudo que queria. Era top model e desfilava roupinhas lindas; era
astronauta, era médica, bailarina, enfermeira, bombeira, veterinária, era das forças armadas estadunidense;
tinha casinha, guarda-roupinhas, patins, patinete, skate, bicicleta, lambreta, carro, casa, mansão, cachorro, namorado, marido,
filha.
As propagandas eram super
produzidas: festa na mansão da Barbie, festa na piscina da Barbie, festa do
pijama na casa da Barbie. Viagem da Barbie ao Havaí; banda de rock da Barbie, desenho animado
da Barbie, um planeta inteiro da Barbie, muito rosa, muito rico, muitas amigas,
muita alegria. E ainda tinha o boneco Ken.
Não, eu nunca fui Barbie
no sentido que alguns dão à Barbie: loura,
linda, fútil, cabeça-oca, rica, milionária. Eu nunca vi esta Barbie nos meus
sonhos de criança porque Barbie para famílias pobres não existia. Barbie era
uma boneca caríssima para gente que podia comprar e brincar de boneca e minha fase de
brincar de boneca se foi muito cedo, até para as bonecas-de-pano.
Adulta, ganhei boneca de
presente do namorado e urso de pelúcia escrito eu te amo. Não era a Barbie,
muito cara para namorados trabalhadores. Viveram comigo bons anos. A Barbie
entrou na minha casa quando nasceu minha filha. Um lindo presente. Vieram mais
Barbies: Barbie do Paraguai, Barbie xinguiling do shopping Oi, Barbie falseta
1,99 e a Barbie, umas três ou quatro juntamente com Mulan, Júlia, Moranguinho, as
Bratz, que foram devolvidas por serem muito cabeçudas. Polly não teve vez nem
Susy. Mas Barbie ganhou um caminhão de mudança e carro da Suzi e andava pela casa ao lado do
namorado, ora Max Steel, ora Gohan, Goku, Pikachu ora Homem-aranha, Batman ou Superman. Uma coleção exótica que tinha
o Buzz lightyear, dinossauros, morcegos,
aranhas, cobras e insetos repugnantes que brilham debaixo da cama ou no escuro.
Barbie conheceu a turma Harry Potter, Snoop, turma da Mônica e até, acredite,
foi amiga da enorme boneca Sandy-Júnior.
Barbie é só isto, aquilo,
aqueloutro para brincar assim e assado, assim-assado e assim ou assado.
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"Além da popularidade, a Barbie é uma boneca que explora infinitas possibilidades e sempre foi sinônimo de inovação. Um exemplo disso foi o lançamento da primeira boneca negra, ainda nos anos 1960. A partir disso, milhares de modelos foram lançados, e todos foram muito bem recebidos pelo público."https://modobrincar.rihappy.com.br/historia-da-barbie/
I really miss your posting always.
ResponderExcluirI always refer it to my family and friends.
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