POBRE BICHINHO
Marina da Silva
Vento frio
Inverno, 12°
Gélido, o sol se encobre de frio
Num cobertor de cúmulos branquinhos.
Pessoas caminham e s arriscam
No perigoso trânsito da cidade grande
Um pulo e foi por um triz
O motorista avançou o sinal
Uma imprecação
Rebatida no gesto obsceno.
Vida segue
E lá está um corpo estrebuchando
No chão
Baba gosmenta e mela de catarro
Saem pela boca e nariz
Três rapazes, trabalhadores, velam o corpo
Que entre espasmo, baba e meleca
Responde com dificuldade, inaudível.
Ligou 190?
Não vem.
Justificou?
Não vem.
192?
Chamado há quinze minutos.
Vou chegar atrasado. Mas é solidário com os outros dois.
Tem a RISP ali no terminal JK
Fui lá. Não vem.
Mas é um ser humano!?.
Indignação. Vou lá!
O corpo magrelo e sujo
Novamente se contorce
Fica hirto.
Olá, tem um senhor passando mal...
Não posso fazer nada. Frio
Preciso falar com alguém. Vácuo
E a polícia civil?
Não é para atender os civis?
Não tem ninguém
Delegacia só abre às nove horas.
Desolação, impotência abissal
Uma policial militar se aproximam,
Conversam de longe. RÍSPidos
Não querem ajudar podem nos acampamentos golpistas
Tentativa de golpe contra Lula presidente.
O cérebro não entende al absurdidade irascível
Apenas transforma em imagens
Dois suinos rosados, fartos, fardados
Não podem os militares
Os policiais civis não chegam
Delegacia fechada até as nove horas.
E o SAMU?
Já se passaram vinte minutos
Alguém chega, olha
Uma mulher se solidariza
Vários, apesar da impotência
Semblantes indignados
Deve estar com fome
O senhor quer um café, um suco?
Já tomou
Ele vinha na minha frente e caiu
Parece epilepsia
Obrigada senhora, quero ir embora
O Samu já está chegando
Estou bom, não precisa.
Chega o Samu
Bom dia
Sorrisinhos
Escárnio.
É nosso conhecido, diz a moça.
Ela é da sua família? Uma sobrancelha erguida, fuzis nos olhos.
Estou bom...
Vamos para a ambulância...
Mostrou respeito ao olhar 43
Vamos. Sem firmeza
Vamos ver na ambulância. Avançando sobre o corpo jogado
A minha bengala
O homem é levantado
Uma mulher, dois homens, um é o motorista
Pouca confiança inspiram
Desconfiança
Vão despejá-lo mais a frente...
Não.
Olham direitinho.
Já o conhecem
Magro, pardo, falta-lhe dentes na frente,
Um canino quebrado
Veste jeans, camisa, blusa de frio, tênis
O boné bonina ficou na calçada
Cada um vai para o seu trabalho
Lágrimas
Secas
secam
Não de dó do pobre coitado
Mas por senti-lo tão tão tão
Pobre bichinho.
Your posting is my dream posting indeed.
ResponderExcluirEverything is so detailed.
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