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quinta-feira, 6 de julho de 2023

BRASIL. ESTÓRIA PARA CRIANÇA DORMIR

 POBRE BICHINHO

Foto Marina da Silva. Rua Sergipe. Savassi. 06-07-2023


Marina da Silva

Vento frio

Inverno, 12°

Gélido, o sol se encobre de frio

Num cobertor de cúmulos branquinhos.

Pessoas caminham e s arriscam 

No perigoso trânsito da cidade grande

Um pulo e foi por um triz

O motorista avançou o sinal

Uma imprecação

Rebatida no gesto obsceno.

Vida segue

E lá está um corpo estrebuchando

No chão

Baba gosmenta e mela de catarro

Saem pela boca e nariz

Três rapazes, trabalhadores, velam o corpo

Que entre espasmo, baba e meleca 

Responde com dificuldade, inaudível.

Ligou 190?

Não vem.

Justificou?

Não vem.

192?

Chamado há quinze minutos.

Vou chegar atrasado. Mas é solidário com os outros dois.

Tem a RISP ali no terminal JK

Fui lá. Não vem.

Mas é um ser humano!?.

 Indignação. Vou lá!

O corpo magrelo e sujo

Novamente se contorce

Fica hirto.

Olá, tem um senhor passando mal...

Não posso fazer nada. Frio

Preciso falar com alguém. Vácuo

E a polícia civil?

Não é para atender os civis?

Não tem ninguém

Delegacia só abre às nove horas.

Desolação, impotência abissal

Uma policial militar se aproximam,

Conversam de longe. RÍSPidos

Não querem  ajudar podem nos acampamentos golpistas

Tentativa de golpe contra Lula presidente.

O cérebro não entende al absurdidade irascível

Apenas transforma em imagens

Dois suinos rosados, fartos, fardados

Não podem os militares

Os policiais civis não chegam

Delegacia fechada até as nove horas.

E o SAMU?

Já se passaram vinte minutos

Alguém chega, olha

Uma mulher se solidariza

Vários, apesar da impotência 

 Semblantes indignados

Deve estar com fome

O senhor quer um café, um suco?

Já tomou

Ele vinha na minha frente e caiu

Parece epilepsia

Obrigada senhora, quero ir embora

O Samu já está chegando

Estou bom, não precisa.

Chega o Samu

Bom dia 

Sorrisinhos

Escárnio.

É nosso conhecido, diz a moça.

Ela é da sua família? Uma sobrancelha erguida, fuzis nos olhos.

Estou bom...

Vamos para a ambulância... 

Mostrou respeito ao olhar 43

Vamos. Sem firmeza

Vamos ver na ambulância. Avançando sobre o corpo jogado

A minha bengala

O homem é levantado

Uma mulher, dois homens, um é o motorista

Pouca confiança inspiram

Desconfiança

Vão despejá-lo mais a frente...

Não.

Olham direitinho.

Já o conhecem

Magro, pardo, falta-lhe dentes na frente, 

Um canino quebrado

Veste jeans, camisa, blusa de frio, tênis

O boné bonina ficou na calçada

Cada um vai para o seu trabalho

Lágrimas

Secas

secam

Não de dó do pobre coitado

Mas por senti-lo tão tão tão

Pobre bichinho.








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