TESTE POBREZA
Marina da Silva
Ansiosa para
saber o resultado do jogo de quarta-feira e descobrir se meu time conseguira se
manter no G4 – os quatro que sobem para a 1ª divisão, ou se a coisa tinha
ficado russa lá no G8, comprei ao descer do ônibus, um tablóide, um jornalzinho
de 0,25 centavos, febre em todo o estado.
De cara peguei
no mínimo dez centavos do meu dinheiro: o placar favorável de 3x0! Poderia ter
descartado o jornaleco ali mesmo mais ainda tinha direito a quinze centavos de
notícias. E fui buscá-las no horóscopo, no resumão das novelas, na cruzadinha,
na agenda cultural 0800 e na programação e horários dos cinemas.
Meus dez
centavos de notícias prediletas cobriam o tema futebol. Na verdade, me
interessava o resultado do jogo, quem fizera os gols, a posição dos times na
tabela e lógico, saborear a derrota do nosso maior rival na Copa Sul-americana.
Em menos de cinco
minutos dava cabo no jornal: meia dúzia de páginas de violência deixando marcas
vermelhas nos dedos, o mesmo de páginas para as fofocas de televisão (economia
de tempo e possibilidade de ver coisas diferentes em outras telas), outra meia
dúzia para notícias de futebol entremeadas por anúncios para perda peso,
sex-shop, frigidez e ereção precoce e velhas e batidas piadas MISÓGINAS,
MACHISTAS, HOMOFÓBICAS.
Ainda sobravam
dez minutos antes de iniciar a jornada quando dei de cara com um teste: você se
acha pobre? Meus 0,25 centavos já estavam
lidos e super bem pagos, mas curiosa, aproveitei o tempo livre para dar uma
olhada no teste. Nada de novo e a mesma tecla intolerante aos pobres, coroada
por piadas de louras, mulheres, gays, machismo, essas coisinhas “naturalizadas”.
Eram 20 questões
de pobrezas que exigiam sinceridade nas respostas, entre elas: passar miolo de
pão no fundo do pote para aproveitar os últimos vestígios de margarina, usar
cortina de plástico no chuveiro, fazer churrasco na calçada em final de semana,
pendurar papel higiênico com arame no banheiro, levar trouxinhas de festa para
casa.
Assinalando sim
a mais de três questões, o cidadão automaticamente estava enquadrado na
categoria pobre: ô pobreza! Era a observação final e muito coerente com o
texto!
À medida que lia
as perguntas comecei a me sentir imensamente pobre, e olha que na falta do que
fazer já tinha lido uma pergunta cretina e sua resposta idiota, uma piada de
gay e uma piada de loura. Bem feito-pensei- um tabloide que não tem cuidado nem
com as regras de gramática ou a riqueza da língua portuguesa, não vale nem os
vinte e cinco centavos. É mesmo... pobre!
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