TRUMP versus TRUMP
Parte 4
Marina da Silva
Se você pensou divórcio, quase acertou. Mas é Trump contra ele mesmo. No auge da era Ronald Reagan (1980-1989) e na crise financeira dos anos 1980's ao ser questionado sobre o que faria se fracassasse nos seus projetos de isenções milionárias na restauração do hotel Commodore e Trump Tower Donald responde à apresentadora que se tal acontecesse ele se "candidataria a presidente da República". Está assim plantada na cabeça do público e fãs o caminho político ambicioso; e Donald Trump usou e abusou desta "estratégia de marketing" (difamação, ameaça, perseguição Roy Cohn") contra o prefeito de Nova York e sua administração desde o final dos anos 1970's, humilhando-o e o atacando na mídia e abrindo um processo contra a prefeitura de Nova York em 1985 para conseguir 40 anos de isenção fiscal bilionária para a Trump Tower e muita publicidade para a logomarca Trump.
"E se você não conseguir, o que vai acontecer?" Pergunta a repórter. "Então eu esperarei por uma administração mais progressista e o mais importante, vou esperar por tempos de crise. Em tempos ruins eu consigo o que eu quiser." grifo meu
A verdade é que o desvario faraônico de Trump principiará sua queda e torná-lo-á a piada no mundo dos negócios e na política com esta intenção de se tornar presidente dos Estados Unidos. Os inúmeros empréstimos bancários e na Bolsa para seus empreendimentos pagando juros de 14%, além de compras imobiliárias pagando alto e apostando alto na valorização das mesmas, a exemplo o casino Taj Mahal, obrigará Trump abrir falência, negociar com credores (bancos), dar calote nos fornecedores, empreiteiros, trabalhadores. Seu jeitinho "MY WAY", desafinou, derrapou e foi um estrondoso fracasso. Mas como diz o dito popular: se eu lhe devo 1 dólar o problema é meu; se lhe devo bilhões de doláres...o problema é seu! A lua de mel com a imprensa termina com a queda do império Trump? Não. Trump, o mago da publicidade, propaganda e marketing irá usar "as desgraças" para se colocar mais e mais em foco: Arriscou, perdeu e volta a reerguer o "American dream", mesmo sendo uma farsa, um perdedor. E seu segundo casamento...Foi para o brejo também. Toda vez que tem um "problema" Trump joga a culpa no casamento, nas exigências do casamento, de ser pai, marido, empresário de sucesso...Adeus Marla!
***
Chegamos ao século XXI! Donald Trump é um tiozão, solteiro cobiçado, desfilando mulheres lindas por onde quer que vá e negociando a falência dos seus empreendimentos a seu favor e dando "cano" em muitos dos seus credores. Em 2001 assiste o ataque terrorista de 11 de setembro da sua janela na Trump Tower e claro, vai para as mídias aparecer. Desde a eleição do ator e lutador Jesse Ventura, um ET na política, para governador do estado de Minesota em 1998, Trump pensa seriamente em ser presidente. Na visita ao "amigo" Ventura Trump só quer saber quem fez sua campanha "politicamente incorreta". A partir de 1999-2000 Roger Stone, que se auto-intitula agente provocador1, na verdade jogo político sujo e baixíssimo nível, se empenhará em fazer Trump, presidente. Mas relutante e não apto a lidar com derrotas, Trump no último momento, como fizera anteriormente declina do convite: vai esperar pelo momento certo (o mesmo que esperar por grandes crises e caos) quando puder ter certeza que pode ganhar. Ganhou Bush, 43º presidente [2001-2008], filho de George H. W. Bush, 41º presidente dos EUA [1989-1993] e tem início a "Guerra do terror", isto é, Os Estados Unidos tocando terror no Oriente Médio:
"Os ataques terroristas de 11 de setembro ocorreram oito meses após o início de seu primeiro mandato. Bush respondeu ao ataque com o que se tornou conhecido como a Doutrina Bush: lançou uma "Guerra ao Terror", e uma campanha militar internacional que incluiu a Guerra no Afeganistão em 2001 e a Guerra do Iraque em 2003. Também promoveu políticas relacionadas a economia, saúde, educação, reforma da Previdência Social, uma alteração da Constituição para proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e sancionou leis que resultaram em amplos cortes de impostos, além de promulgar o Ato Patriota."2
O Ato Patriota permitiu e permite tratar como inimigo e praticar terrorismo contra as minorias dentro do solo americano, mesmo contra os cidadãos e cidadãs legalmente americanos ou nascidos nos EUA provocando um aumento inimaginável da xenofobia, homofobia, racismo contra afro-americanos, asiáticos, muçulmanos, misoginia, regressão dos direitos civis, "chincanofobia" (aversão profunda aos mexicanos)3, etc, e tal também, um lado escuro, uma mancha desde a "criação" da nação.4 Neste contexto histórico, Trump compreende que só poderá ser presidente por um dos grandes partidos políticos da América: partido republicano ou partido democrata. Um sonho impossível sendo "a piada" desde que deixou esta intenção manifesta nos anos 1990's. Mas o século XXI veio com a força total do "empreendedorismo" e dos reality shows ou BB's (Ex.: As Kardashians, BBB's Brasil, no ar desde janeiro de 2002) frutos da revolução nos meios de comunicações com a internet e redes sociais conectando instantaneamente qualquer um, que tenha acesso a ela, no planeta. Em 2004 Trump é show, pop star, celebridade e apresentador do programa O Aprendiz e consegue enorme penetração e enorme popularidade nos lares americanos.
Não foi somente o 11 de setembro que chocou os Estados Unidos e o mundo no século XXI. A reestruturação produtiva, a globalização dos mercados, a desindustrialização nos Estados Unidos, a "experiência neoliberal" aprofundaram o desemprego, a concentração de riquezas (ricos emergentes), especulações financeiras e imobiliárias, levaram a várias "quebras" ou crises geradas no "cassino" Wall Street e um aumento absurdo da pobreza e miséria mundial.5 Nos primeiros anos do século XXI, um estudo do IFC apontava um terrível quadro da fome mundial:
"um estudo realizado pelo IFC (Corporação Financeira Internacional) instituto privado ligado ao Banco Mundial e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre como a pobreza mundial é um mercado potencial de capital, ou seja, a pobreza pode gerar muita riqueza. Como?(...) Diz o estudo que “as quatro bilhões de pessoas que vivem na pobreza tem um poder de compra de 5 trilhões de dólares”! Pasmem! Os quatro bilhões de pobres que correspondem a 72% da população mundial é um mercado subestimado, “significativo e mal alimentado”! Quatro bilhões de pessoas, vivendo abaixo da linha da pobreza, isto é, tendo de sobreviver com 1,5 a 4 dólares por dia, podem enriquecer ainda mais os poucos ricos do mundo! É um paradoxo!O levantamento do IFC, unha e carne ao Banco Mundial/BID entrou fundo na pobreza, rastreou, mapeou, fez gráficos e chegou aos seguintes dados: geograficamente, a maior concentração de pobres está na Ásia e Oriente médio – são 2,86 bilhões de seres humanos que podem ser explorados e gerar um mercado de 3.47 trilhões de dólares. Trilhões! "6
"Quem foi que disse que a miséria é só aqui? Quem foi que disse que a miséria não ri? Quem tá pensando que não se chora miséria no Japão? Quem tá falando que não existe tesouros na favela?"7 Sim, existe miséria, pobreza, o encolhimento da classe média nos países "primeiro-mundistas" como Japão, Reino Unido, Estados Unidos e mesmo nos países modelos do Estado de Bem-estar social europeu. E claro que no Brasil...Não. NÃO? O Brasil estava na "onda rosa", um movimento de recuo parcial das práticas neoliberais que levou cerca de 50 milhões de habitantes para o bloco da pobreza, miséria, extrema miséria nos anos 1990's, principalmente com Fernando Henrique Cardoso, o tchutchuca neoliberal que agiu para o desmantelamento do Estado, fim ou redução de proteções sociais e trabalhistas, do sub-investimento em saúde, educação, habitação, saneamento básico, cultura; arrocho salarial do funcionalismo público (boa parte da classe média clássica), encolhimento da renda geral e dos baixa-renda (salário mínimo) em particular; privatizações consideradas daninhas para o Brasil enquanto nação e potência regional na América do Sul (período conhecido como A privataria tucana8 ou do partido PSDB). O que era do ponto de vista geopolítico e geo-estratégico importantíssimo. Imagine um país amigo dos EUA e podendo ser um "braço ou porrete" deste para garantir a hegemonia norte-americana no continente que afinal, já era declarado posse dos norte-americanos desde os primórdios do século XIX: À America, os americanos!
"Lula é o cara"! Afirma Barack Obama. Eleito presidente do Brasil para dois mandatos consecutivos (2003-2009), Lula fez Dilma Rousseff sua sucessora para mais dois termos (2010-2018) sendo o último mandato usurpado com um golpe de Estado orquestrado no Congresso Nacional, envolvendo coronéis da bancada rural, bancada da bala, bancada das federações das indústrias (destaque Fiesp, São Paulo), bancada evangélica (líderes evangélicos corruptos), e grupos da extrema direita(militares das Forças Armadas; policiais, delegados, juízes, milicianos) e a poderosa Organização Globo e afiliadas e congêneres. Um erro geopolítico e geoestratégico fenomenal que está custando muito caro ao Brasil e, acreditem: à superpotência Estados Unidos da América. Em sérgio moro há verdade?9
Voltando aos Estados Unidos... Século XXI.
E mais uma crise financeira criada pelos apostadores bilionários de Wall Street: crise sub-prime (2008) epicentro nos Estados Unidos e se espraiou para a Europa (2011). Mais terrível que a quebra da bolsa de NY em 1929, esta crise criará a oportunidade para o primeiro presidente negro dos Estados Unidos: Barack Obama; a ascensão dos democratas progressistas e ao mesmo tempo, o fortalecimento dos movimentos extremistas, direitistas, nazifascistas nos EUA e no mundo. Os efeitos deletérios e desestabilizadores sobre a população tanto econômicos como a perda da fé nos chamados políticos tradicionais republicanos e democratas (liberais, conservadores, neo-conservadores) criará a "tempestade perfeita" para a tomada do poder pelos anarco-capitalistas libertarianos defensores das ideias de Murray Rothbart, os inimigos do Estado, radicais pelo capitalismo e amigos da liberdade e individualismo e propriedade privada e livre mercado e sexo livre e não às guerras, e... paz mundial.
Na verdade uma mistureba de ideias pinçadas aqui e ali (Mises, Hayek, Milton Friedman, Ayn Rand, Barry Goldwater, R. Lèfreve, M. Rothbart citando os mais badalados no meio intelectual e estudantil) batidas no liquidificador, espalhadas pelas universidades americanas, repassadas em panfletos, jornais, revistas, rádio, TV's, think tanks, associações, ong's, institutos, etc. discutidas em encontros e seminários regados a LSD, cocaína, maconha, álcool;10 e, potencializados na era da Internet e criação das redes sociais no Google, Orkut, Youtube, Twitter, Facebook, Reddit, Snapchat etc que descambará na "fundação The Moviment"11 capitaneado pelo mundo por Steve Bannon. SEM AS REDES SOCIAIS e o uso estratégico de dados privados para fraudar, ops, influenciar eleições pela empresa Cambridge Analytica12, as chances de Trump ser presidente dos Estados Unidos era uma comédia, uma super piada.
O TRUMPISMO
(continua...)
Fonte
1.Sobre Roger Stone ver documentário: GET ME ROGER STONE https://www.netflix.com/watch/80114666?trackId=13752289&tctx=0%2C0%2C6df28dc650edbb4e3a392c47d2c07400901e5175%3Aba3386807bc8120b51e9994f462e4fc97d492872%2C6df28dc650edbb4e3a392c47d2c07400901e5175%3Aba3386807bc8120b51e9994f462e4fc97d492872%2Cunknown%2C
2. Sobre o ATO PATRIOTA ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/George_W._Bush; SOBRE George H. W. Bush, 41º presidente dos EUA ver https://share.america.gov/pt-br/tributo-a-george-h-w-bush-41o-presidente-dos-eua/ "George Herbert Walker Bush, o 41º presidente dos Estados Unidos, morreu em 30 de novembro aos 94 anos de idade.Ele foi o presidente mais longevo da história dos EUA e um estadista cujo serviço ao seu país se estendeu por toda a sua vida adulta. Antes de se tornar presidente, ele atuou em cargos que variaram desde piloto da Marinha até diretor da Agência Central de Inteligência, além de vice-presidente dos Estados Unidos. Como presidente, de 1989 a 1993, Bush ajudou a marcar o início da propagação da liberdade e do livre mercado. O Ocidente prevaleceu na Guerra Fria, e o Muro de Berlim foi derrubado, resultando em uma Alemanha unificada. Bush também assinou dois tratados visando reduzir drasticamente a ameaça de uma guerra nuclear."
3. Chincanos, chincanofogia: termos pejorativos para se referir aos mexicanos legais e nascidos nos Estados Unidos.
4. Sobre a farsa "terra das oportunidades, liberdade, direitos, democracia" para qualquer um no solo americano e blá assista os documentários: AMEND: Figth for América https://www.netflix.com/watch/80219054?trackId=13752289&tctx=0%2C0%2C422b2198492ebd8984e2a40d7e01e8df1af20d67%3A6987438d52514a8edb86f48eab293839795de457%2C422b2198492ebd8984e2a40d7e01e8df1af20d67%3A6987438d52514a8edb86f48eab293839795de45 7%2Cunknown%2C; 13ª EMENDA https://www.netflix.com/watch/80091741?trackId=13752289&tctx=0%2C4%2C422b2198492ebd8984e2a40d7e01e8df1af20d67%3A6987438d52514a8edb86f48eab293839795de457%2C422b2198492ebd8984e2a40d7e01e8df1af20d67%3A6987438d52514a8edb86f48eab293839795de457%2Cunknown%2C
5. SMIL, Vaclav. MADE IN USA: The rise and retreat of American Manufacturing. the MIT Press Cambridge, Massachusetts, London, England. ISBN e-book 978-0-262-31675-0; HARVEY, David. O ENIGMA DO CAPITAL E AS CRISES DO CAPITALISMO. São Paulo, SP: Boitempo, 2011; DAVIS, Mike. PLANETA FAVELA. São Paulo: Boitempo, 2006.
6. SILVA, Marina da. Brazil: QUANTO MAIS POBREZA MELHOR. Os próximos quatro bilhões. Leia aqui no blog
7. MISÉRIA NO JAPÃO canção de Ney Matogrosso. https://youtu.be/vZsBqKD9gGI
8. RIBEIRO Jr., Amaury. A PRIVATARIA TUCANA.Geração editorial, 2013
9. Sobre o juiz parcial que usou a mega Operação Operação Lava jato para ajudar derrubar a presidenta Dilma Rousseff, prender sem provas Lula e inviabilizar sua candidatura e aliar-se a extrema direita militar para eleger um asno para presidente ver: The Intercept: OPERAÇÃO VAZA JATO. https://theintercept.com/2020/06/09/vaza-jato-um-ano/
10. Sobre a primeira e segunda onda da retomada das ideias "mercado livre, propriedade privada, estado mínímo" ver: DOHERTH, Brian. RADICAIS FOR CAPITALISM: a freewilling history of the modern american libertarian moviment.
11. Sobre a atual onda do anarco-capitalismo libertariano ver: DOHERTH, Brian. RADICAIS FOR CAPITALISM: a freewilling history of the modern american libertarian moviment;
12. Sobre a atuação da empresa Cambridge Analytica (Steve Bannon foi vice-presidente) nas eleições presidenciais em vários países desde os anos 1990's e principalmente na saída do Reino Unido da União Europeia- Brexit; eleições dos EUA (2016), Brasil (2018) ver: https://www.netflix.com/watch/80117542?trackId=13752289&tctx=0%2C3%2C6df28dc650edbb4e3a392c47d2c07400901e5175%3Aba3386807bc8120b51e9994f462e4fc97d492872%2C6df28dc650edbb4e3a392c47d2c07400901e5175%3Aba3386807bc8120b51e9994f462e4fc97d492872%2Cunknown%2C;
Nenhum comentário:
Postar um comentário