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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

BRASIL. PARA ELON MUSK, the human exterminator.

 POSSO ESCREVER

Marina da Silva


Como o Poeta

Posso escrever os versos mais tristes

esta noite.1

E várias noites seguidas e a noite inteira

Noites a fio

Sob um céu e luzes de satélites

Dos homens mais ricos do mundo, bilionários

E infinitamente miseráveis, pobres

De uma pobreza indefinível

Por sê-los, eles, indivíduos definitivos

E finitos

Sonham com poder estelar, vida em bilhões de anos 

E mal alcançam, de estrela, a fama

de curtidas de estrelas, mortas, se não idolatradas.

Deixam seu brilho fátuo, efêmero como Steve Jobs e mesmo

Quando, tendo tudo

E criado e agido sobre coisas e gentes e bichos

Enfim sobre toda a humanidade

Agem solo, solidão venenosa, parasitária, criação destrutiva

De humanidade racionalizada, fria, limitante

Que dá uma distinção sem nobreza, impura, corrupta e corrosiva

Um racionalismo que proclama extinção de humanos

Principalmente de seus pares competidores concorrentes  desleais.

Sim

Posso escrever os versos mais tristes esta noite

E posso chorar por Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg

Pelos dois mil e seiscentos e poucos bilionários dali, de lá, daqui e  de acolá

Os versos mais tristes do mundo  posso escrever e posso chorar 

Sob o luar que cai sobre o ônibus no meu olhar, crescente.

Posso escrever os versos mais tristes, angustiantes,

Doloridos, mortificantes e desesperados do mundo esta noite

Por Elon Musk menino, Elon homem a tentar tocar violino

Sim, esta noite eu posso, só está noite.

E posso escrever os versos mais tristes do mundo

Falando de amor, resistência, paz, esperançar, acreditar

Para os bebês, crianças, meninos, meninas, adolescentes

Mulheres, homens, pessoas idosas do mundo inteiro em conflitos e guerras

E que sobrevivem dia e noite infinitamente

Todos os dias em luto e luta por todos os seus

Mortos, estraçalhados, trucidados, estilhaçados por fuzis, metralhadoras, foguetes, mísseis, balas perdidas.

Posso chorar e escrever versos tristes esta noite por mim

Por todos e em cada rincão da Terra.

A todos nós, estes humanos frágeis e fracos e impotentes

Não posso e jamais escreverei os versos mais tristes do mundo,

Nunca

Com dó, ressentimento, raiva, vingança 

Nem mesmo para os bilionários nem mesmo para Elon Musk.

Para eles posso escrever os versos mais tristes do mundo de dó.

Sim, todo sentimento de tristeza, pesar, pena e dó infinita.

Mas só esta noite escrevo para Elon Musk os versos mais tristes do mundo.

Aos que estão sob fogo nos conflitos, guerras na disputa pelo poder mundial

Jamais escreverei os versos mais tristes esta noite ou qualquer noite.

Escreverei versos tristes e lhes direi

Honro e honrarei todos com meu coração contrito, aflito em  meus versos quebrados, meus lamentos

Se poeta fosse, molharia todos os versos com minhas lágrimas

Olhos molhados, coração pulsando frágil diante da imensidão da impotência

humana

Diante das guerras e dos seus senhores

Da potência decadente que apostou e aposta no capitalismo bélico

E nos vende esta ignomínia como marca de liberdade e democracia. 

Posso escrever os versos mais triste esta noite em pleno dia

Por todos eles, os bilionários human exterminators  como Elon Musk

Que tendo sonhado Marte

Se contentou em criar foguetes reutilizáveis

Levando satélites para vigiar a Terra

Do céu, da lua

Meras máquinas de vigilância por sinais acumuladores de dados

Que geram altíssimos lucros e lixo espacial

Numa corrida imperialista bestial  por espaços vitais aos imperialistas, colonialistas

Que dividem as pessoas: humans e human exterminators para oito bilhões de seres humanos

Eu posso escrever versos de amor, resistência, alegrias e lutos.

Mas esta noite, somente nesta noite e unicamente NESTA noite 

Posso escrever os versos mais tristes do mundo

Sentindo um aperto e tristeza  e muita dó em todo meu ser 

Por Elon Musk e seu chapéu texano e seu violino.



Fonte

1. NERUDA, Pablo. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio editora, 2004.

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