O CARRINHO DO SUPERMERCADO
Sérgio Antunes de Freitas
Ao final das compras, no momento de levar o carrinho ao caixa, parece que os pensamentos dos consumidores são bastante padronizados.
- Será que esqueci algum item?
- Acho que os preços subiram! Ou desceram?
- Pôxa! Eu faço as compras, carrego, guardo tudo na geladeira e armários... Eu tenho direito a um chocolate!
Mas, se atentarmos para a imagem, com um pensamento mais analítico, podemos notar no carrinho cheio uma espécie de caldo da civilização. Basta levantar os óculos do pragmatismo. Ou da alienação.
Cada caixinha tem uma longa história, desde a descoberta do produto na natureza até à sua industrialização. Nem vamos falar das descobertas dos vidros, dos papéis, dos plásticos.
Em cada artigo, está o resultado de iniciativas, de esforços, de aplicação em trabalhos, de tragédias, de desavenças, de obstinações, de vitórias.
Muitas vezes, contém horas de estudos, de pesquisas, de alegrias pelos deveres cumpridos.
Quantas pessoas, às vezes, ao longo de séculos, não concorreram para o produto chegar às nossas mãos?
E quantas não trabalharam para a criação de leis e normas de regulagem, garantindo informações relevantes e uma boa qualidade do bem de consumo?
Fiscais, nutricionistas, economistas, inúmeros profissionais colaboram para formar essa egrégora de terceiro milênio.
O que é adquirido pode também dar pistas da vida de quem empurra o veículo.
Dentro dele, pode haver vinhos caros, queijos exóticos, doces importados, afora itens mais comuns.
Ou pode haver uma caixa de pó para fazer bolo, um litro de refrigerante barato e uma lata de doce pronto, levando à dedução de uma festa de aniversário.
Vamos dispensar a lembrança das crianças, no estacionamento, pedindo uma lata de leite em pó.
Em cada elemento do mundo natural e do mundo artificial, há pegadas de nossos ancestrais.
Em cada ato de nossas vidas, segue um recado para os nossos descendentes sanguíneos ou apenas de mesma espécie.
No supermercado universal em que vivemos, devemos agir com o consumo responsável, com a preservação dos espaços, obedecendo à ordem natural das coisas,
Se, hoje, temos facilidades, prazeres, vantagens no mundo do consumo, sem glamourizar o passado nem condenar as novas gerações que estão buscando seus futuros, devemos respeitar nossos valorosos ancestrais.
A melhor forma de se fazer isso é concorrendo para um mundo melhor, no qual todos possam ter acesso à plenitude do consumo e da vida.
E só podemos fazer isso, tentando enxergar as coisas e as pessoas além de seus rótulos.
Sérgio Antunes de Freitas
Outubro 2023
Your photos are so nice and marvelous.
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