14-04-2005
URGENTE BRASIL DÁ PENA NA TV
2005. Vinte e
nove de novembro. Perto das dez e meia da noite.
Pânico e horror!
Um ônibus, linha 350 – Passeio/Irajá no Rio de Janeiro é interceptado por cerca
de sete pessoas que ensandecidas jogam gasolina e uma bomba caseira que explode
em meio a cerca de trinta passageiros, deixando doze feridos e cinco mortos,
dentre eles mãe e filha de um ano e meio, mortas carbonizadas.
Não era um
ataque terrorista do Hamas, da Al-Quaeda, do Hezbolah, do ETA ou IRA, do Fatah.
Não era o terror norte-americano sobre o Afeganistão e Iraque; não eram ataques
de judeus e palestinos e muito menos uma guerra pelo controle do tráfico de
drogas nas inúmeras comunidades pobres do Rio.
2005. Trinta de
Novembro.
O dia inteiro e a toda hora no
rádio, nos jornais e canais de TV, a notícia é veiculada causando consternação
geral. Ainda se sabe pouco sobre o atentado. Quem? Por quê? A mando de quem?
Aos poucos uma história vai se
construindo, uma versão dos fatos vai tomando forma nos jornais e telejornais
através das investigações policiais e de jornalistas e dos depoimentos dos
sobreviventes, das testemunhas do ataque. O ônibus teria sido carbonizado a
mando de traficantes de uma favela em represália a morte de um de seus
traficantes, de vinte e dois anos, pelos rivais do tráfico vizinho.
Enquanto a mídia séria, o
jornalismo autêntico sai a campo para colher as informações, as possíveis
hipóteses sobre o ataque, um programa sensacionalista de TV, totalmente
descompromissado com tudo, autorgando a si o direito divino de ditar a justiça,
inicia o julgamento, conduzindo um
linchamento televisivo ao vivo e a cores com frases abusadas e posicionamentos
absurdos, via de regra repetidos em cada programa.
O untoso jornalista, apresenta o
caso fatiado, faz chamadas ao vivo, chega ao desplante de encurralar policiais
e delegado para subtrair informações e induzir hipóteses na investigação.
_ “Cinco pessoas morreram
carbonizadas _ brada baboso e irado _ treze estão feridas”!
De olhos esbugalhados saltitando pelas órbitas
o homem anda nervosamente pelo cenário enlouquecido, levando atrás de si,
Jesus, o pobre câmeraman que é desancado sem piedade e exigindo justiça
imediata, para ontem. “Os bandidos não podem impunes”. Saliva raivoso.
O arsenal de xingamentos diários
é reforçado: canalhas, vagabundos, safados, marginal, bandidos, salafrários.
“Eu não só sou a favor da pena de
morte como quero estar lá e apertar o botão da cadeira elétrica”, lembro-me bem
dessa frase repetida em vários programas.
A todo momento o homúnculo cobra a justiça de
justiceiros atropelando todo o sistema judiciário brasileiro.
_“Havia uma criança _ parece
estar avisando a alguém do outro lado da telinha _ nenhum bandido toleraria um
crime tão hediondo!
Bandido?! O recado é para algum
bandido?!
– “Queimar viva uma criança”! Repete a todo
instante.
E anda de um lado para outro,
move os olhos sádicos, pervertidos, clama justiça imediata dirigindo-se a
alguém. Mas quem?
2005. Primeiro dezembro.
Uma tragédia anunciada, pedida,
ordenada para aplacar uma terrível tragédia! A pena ditada pela TV foi
cumprida! Quatro homens, quatro supostos traficantes envolvidos no ataque ao
ônibus da linha 350 – Passeio/Irajá foram executados à bala.
No local do crime há um recado
rabiscado num velho papelão.
_ Para quem? Constato
tristemente.
“Nós do CVRL não aceitamos ato de
terrorismo.
CV - lado certo da vida errada. Fé em Deus”!
Que Pena! Dá enorme pena...e foi
tudo pela TV.
Brasil em constante guerra com seu próprio povo, assassina a pele preta como nada fosse
ResponderExcluirIt’s a popular posting.
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