PARA QUE SERVE A ARQUITETURA?
Sérgio Antunes de Freitas
Esse título costuma aparecer em estudos, livros, palestras dos arquitetos mais velhos, mais famosos.
Certamente, é uma pergunta que acompanha a vida de muitos profissionais da área desde seus tempos de estudante. Como os bons costumam continuar estudando sempre, a pergunta continua incomodando, até que eles recebam o “habite-se” da vida, aquele alvará do término da obra.
Na primeira vez que esse questionamento me provocou, eu era estudante e havia chegado muito cedo para uma aula teórica.
Então, me sentei na beira da jardineira do Minhocão, apelido do Instituto Central de Ciências - ICC da Universidade de Brasília - UnB, e fiquei pensando no projeto deixado em rascunho na prancheta. Era o principal trabalho do semestre, cuja evolução deveria ser apresentada aos professores regularmente, até a nota final.
Minha cabeça procurava as organizações dos espaços, as formas, condicionadas às técnicas construtivas, a fim de obter o máximo de vantagens, com o mínimo de investimentos, ou seja, buscava a economia, o pragmatismo, a racionalidade, para justificar as minhas concepções aos professores.
De repente, saí desse pensamento e observei os espaços centrais do ICC, projetados por Oscar Niemeyer e colaboradores, uma enormidade de metros quadrados gastos com jardins, corredores térreos e corredores em mezaninos.
O contraste entre as preocupações com o meu pequeno projeto acadêmico e os espaços do Mestre era gritante, quase divergente.
Foi aí que me dei conta de uma nobre função arquitetônica, da qual eu estava sendo sujeito naquele local. Eu havia sido levado à contemplação e, como consequência paralela, à meditação.
Então, lembrei de um outro colega, poeta em potencial, falecido precocemente, que havia apresentado seu trabalho para a Professora nos dias anteriores. No atendimento, ela apontou para uma parte do desenho de um hipotético centro comercial e perguntou: - O que tem aqui?
Ele respondeu, seguro: - Aqui não tem nada.
Ela se indignou e afirmou: - Você não pode projetar um espaço que não tem nada, isso não existe!
E ele, impassível, apontou para cima: - Olha para o céu!
Ela pôs a mão na cabeça e disse que ele deveria procurar outro curso, talvez filosofia.
Hoje, eu sei que ele errou na mão e ela, na pedagogia. Deveria ter dito a ele para manter a ideia, mas aprimorar o desenho. Talvez, fazendo daquela área um belvedere, para se contemplar o céu.
Voltei meus olhos para as vigas protendidas. Já havia aprendido que a arquitetura transcende a construção.
Entendi a razão de inúmeros edifícios e logradouros urbanos serem planejados com generosidade de espaços, sem a praticidade esperada pelos lógicos e racionais.
Saí daquele estado de torpor com o cumprimento de um colega me alertando para o início da aula.
Entrei, me sentei e aguardei a fala do Professor.
De início, solenemente, ele perguntou aos alunos: - Para que serve a arquitetura?
Alguns tentaram responder à provocação, enquanto eu sorria pela coincidência dos momentos, mas achei melhor ficar calado.
Se falo alguma coisa, vai que ele me manda mudar de faculdade?
Sérgio Antunes de Freitas
14 de janeiro de 2021
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