FLOR
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Marina da Silva
_ Ô
de casa! Zezé?
Trepada
na goiabeira ao fundo do quintal, Aline sentiu um arrepio e um mal estar,
espécie de mau agouro, quando reconheceu a dona da voz. Era assim que sempre se
sentia quando aquela visita chegava irrompendo pela sala, chamando pela dona da
casa, sua mãe, conhecida por todos como dona Zezé. Nos fundos do quintal, numa
fornalha de barro com trempe de duas bocas, que o pai fizera há poucos dias,
Maria Josefina mexia o "sabão de quadro" que estivera preparando desde muito
cedo.
Devia ser umas duas horas da tarde. O calor escaldante do verão no cerrado tornava-se
insuportável à beira da fornalha. Zezé estava naquele trabalho desde manhãzinha
e respondeu o cumprimento da prima, mandando que esta se achegasse. Com um
olhar incumbiu Aline de continuar cuidando da mistura e foi até a cozinha
receber dona Flor do Salustino, como todos a conheciam.
Maria
das Flores era uma mulher encorpada, feia e atarracada, uma macho-fêmea, como
escutara várias vezes a família dizer. Fora casada com um salafrário! Era o
modo dela se referir ao marido, o senhor Juliano Salustino, moço bonito e
desajuizado. Todo mundo conhecia Flor e sua fama de valentona, mulher que
encarava qualquer homem e que gostava de se gabar, contando como estourara um
bordel buscando o marido na bala e fazendo o maior fuzuê na casa das 'mulheres-de-zona".
Salustino era no seu dizer um raparigueiro.
Gostava de jogatinas, bebidas e de raparigas. E após a empreitada de Flor na
zona, o homem virou um santo! Ela adorava contar a sua façanha. De como
arrebentou a porta do "redevú" com o pé e tirou o homem de lá à bala, no tiro. O
pobre na correria, esqueceu a roupa e saiu correndo pelado janela afora. Ele e
alguns companheiros de farra que estavam na maior folia, safadezas e
indecências. O homem não durou muito e Flor ficou viúva eterna, pois não havia
homem no lugar que encarasse mulher tão brava, que recebia os pretendentes à
bala.
A
família toda dizia que na verdade, ela não gostava mesmo de homem, era
mulher-macho, feia que nem diabo, de bigode, uma pinta grande e cabeluda na
bochecha gorda e muito "arrastadeira" de bagaço. Os homens da família a
respeitavam, mas por trás metiam o malho e caçoavam desta mania de valentona e
de botar banca com todo mundo.
Aline
desceu rápido, deslizando pelos galhos da goiabeira e em três movimentos já
estava no chão, em pé frente ao forno e remexendo o sabão conforme as ordens da
mãe. Lá ia pelos seus doze, treze anos. Magrela, feinha, a cara repleta de
espinhas, nariz chato, cabelo pixaim, mais fina que a colher de pau com que
mexia o sabão.
Não
gostava de Flor. Nem ela nem sua irmã mais velha, Morgana. Esta sempre que as
via, as chamava sorridente e debochada, de meninas feias. Não que isso
importasse ou que não fosse verdade, mas encabulava e dava uma raiva, um ódio
terrível daquela macho-fêmea, que para capeta só faltava o rabo! A irmã mais
velha ignorava totalmente a outra, mas Aline, apesar de não gostar de ser
chamada de feia, pelo menos uma vez por semana, quando das visitas, gostava
muito das histórias de valentia de Flor. A mãe e ela tinham boa amizade, o pai
fingia de morto quando a visita estava em casa e como ela não tinha nem dia nem
hora para aparecer, o que sobrava mesmo era assombrar quando ela dava as caras.
Chegava pisando forte e já ia adentrando a casa como é de costume no interior.
As portas estão sempre abertas, não há muro e nem cercas e estas quando existem
são baixas e muitas vezes sem portão como na casa de dona Zezé.
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Flor
tinha porte além da fama de valente. Vizinho não se metia com ela, nem na roça
nem aqui na cidade. Trazia notícia de tudo, de todos e de quantos ela havia
peitado naquela semana: padres, professores, açougueiros, médico, amolador de
facas, dono da vendinha, a rapariga da filha de fulano, os lesados dos filhos
de sicrano e por aí afora!
O
café vinha e era tomado ali mesmo no quintal, enquanto a mãe de quando em vez
passava o olho no sabão para ver se estava no ponto de tirar do fogo e colocar
para endurecer nas fôrmas.
Uma,
duas, três horas de conversa. Enquanto a mãe dava os últimos tratos no sabão e
punha água na lata de vinte litros para aproveitar as brasas e dar banho nos
filhos pequenos, Flor conversava sem parar, pulando de um causo a outro até
chegar no defunto falecido. Trepada em cima da pedra de lavar roupas, fingindo
não prestar atenção, Aline tirava água do tambor e lavava o enorme caldeirão em
que fora feito o sabão e se deleitava com a conversa.
_ Eu
acabei com a festa dele logo no início do casamento! E lá vinha a estória do
estouro no “redevú”. Flor estava casada de pouco, com um primo. Casamento
encomendado desde quando eles eram pequenos. Ela nunca havia se interessado
pelo assunto, mas não deixou de cumprir o que os pais haviam ajustado quando
eles ainda eram crianças. O casamento foi como qualquer um, com muita festança.
Matou-se uns capados, um novilho e tinha muitos doces, biscoitos, bolo, pinga
feita na roça, cantoria de viola e sanfona. Foram três dias de festas e o noivo
mostrava-se muito feliz.
Logo
nos primeiros meses de casamento, o tal Salustino começou a botar as manguinhas
de fora. Sumia ao entardecer e só voltava altas horas da madrugada. Flor só o
espreitava. Ela dizia que ficou dando
corda para o falecido que vendo que a mulher não se importava, foi sumindo com
maior freqüência sequer suspeitando de armadilha!
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Certa
noite, aprumou cedo, cheiroso, arrumado e se bandeou lá para os lados da casa
das quengas. Flor já estivera no seu encalço e só estava aguardando o momento
exato para dar o bote, um "nhac" nele! E aconteceu! Sem desconfiar das intenções da esposa,
Salustino se encaminhou para uma noitada no bordel. Esta era a parte que Aline
mais gostava de ouvir. Flor arreou o cavalo, botou a garrucha na cintura e foi
baixar, lá pelas tantas da madrugada, no redevú. Desceu do cavalo atirando e
botando a porta da choupana abaixo, no pé. Lá dentro, na maior algazarra,
sem-vergonhices e indecências, estava Salustino e outros homens, atracados nas
mulheres. Foi um fuzuê só, de homens correndo e pulando pelados pelas janelas e
portas dos fundos! Eram inevitáveis as gargalhadas! Senhor Salustino entrou nos
eixos, mas não durou muito, teve morte besta caindo de um cavalo. Flor teve uma
filha com ele, mas nunca mais quis saber de homens. Só se fosse para peitar e
bater! A danada era tão brava que a última que aprontou foi cuspir na cara de
um delegado e ainda chamar o cabra de crioulo, meganha, macaco, pau-mandado e
tudo porque foi flagrada dirigindo sem carteira e ainda por cima a danada usava
como combustível um bujão de gás de cozinha, numa gambiarra maluca e perigosa numa BR movimentadíssima! Moral da história: Flor foi presa por desacato à autoridade e ficou uns bons
dias no xilindró berrando e xingando tudo quanto é nome feio, pois boca suja
estava ali.
O
delegado não refrescou nem facilitou nada! Nem pela idade avançada, nem por ser
mulher! E a parentela toda aproveitou para ir a forra e tirar um sarro com a
cara da valentona que se não saiu enquadrada, pelo menos murchou mais o papo e
teve que enfiar o rabo entre as pernas!
Marina querida, estou irritada com um puta contratempo: fui hackeada e plantaram um cavalo de troia no disco rígido do meu computador. Tá tudo zoneado, um saco, perdi meu e-mail do hotmail e estou aproveitando o espaço do seu blog pra lhe enviar meu novo e-mail: acfonseca2@gmail.com Por favor me re-adicione e continue me enviando suas mensagens. Ah, perdi também o acesso ao meu facebook. Devo excluí-lo. Um abraço, Angela
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