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terça-feira, 30 de novembro de 2021

BRAZIL: GÊNERO VERMELHO

 COMUNISTA DE GÊNERO

Sérgio Antunes de Freitas

 

Eu me divirto, observando as pessoas usarem termos com um significado para a sua tribo, mesmo tendo outro nos registros formais e informais da humanidade.

Tribo, por exemplo, é "um tipo de agrupamento humano unido pela língua, costumes, instituições e tradições. O termo era, originalmente, empregado para designar cada uma das trinta divisões da Roma Antiga formadas por cidadãos plebeus”.

Hoje, além de uma comunidade indígena, tribo pode ser um grupo de jovens praticantes do surf, um grupo de amigos que bebem cerveja no mesmo bar, um grupo de torcedores fanáticos por um time de futebol, um grupo de aposentados jogadores de dominó na pracinha.

Nesse mais de meio século em que li e estudei, termos surgiram, sumiram, foram alterados, reduzidos, ampliados. Dizem os linguistas, como disse Olavo Bilac, as línguas são organismos vivos.

Mas algumas palavras são usadas da forma mais esquisita possível, geralmente num contexto tribal.

Uma palavra muito usada nas conversas pretensiosamente políticas é “comunista”. Para uns, é um xingamento, cuja resposta pode ser: - Comunista é a sua avó!

Mas essa resposta também está fora de moda para mim. Se eu a usar, vou perder amigas de longa data.

Ela é derivada do conceito de comunismo, um sistema socioeconômico no qual os meios de produção são propriedades do estado. Os meios de produção são as terras, as máquinas e até as habitações. Sim, muitos arquitetos consideram também a habitação um meio de produção. E tome discussão!

No Brasil, comunista tomou o sentido de “inimigo”, no bojo das Forças Armadas, e se espalhou pela sociedade. Talvez pelo fato de os militares terem sido instruídos por cartilhas estadunidenses do tempo da Guerra Fria, quando os soviéticos eram os inimigos em potencial.

Nos países comunistas, os militares devem chamar os inimigos hipotéticos de capitalistas! Será?

Mas essa palavra também extrapolou até esse segundo significado. É comum ouvirmos: - Ele não presta, é comunista! – Ele usa barba, é comunista!

Érico Veríssimo, em seu livro “Incidente em Antares” asseverou: “Comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas inventaram para designar simplesmente todo o sujeito que clama e luta por justiça social”.

Dom Hélder Câmara também desabafou: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.

Até banheiro público individual, atualmente, é acusado de ser coisa de comunista. Portanto, banheiro de avião ou os destinados para deficientes físicos, normalmente únicos e usados por homens e mulheres, sem separação, são muito comunistas.

Outro caso é a tal ideologia de gênero, com um significado em cada tribo e, muitas vezes, sem significado algum. Uma espécie de caixinha vazia na memória, esperando por um conteúdo. Muitas vezes, é apenas uma acusação: - Odeio essas pessoas que defendem a ideologia de gênero!

Gênero é a definição de um conjunto de seres ou objetos ligados por similaridade. É muito usado para diferenciação entre a masculinidade e a feminilidade, especialmente na gramática.

A “ideologia de gênero” apareceu, pela primeira vez, segundo algumas fontes, em um documento da Conferência Episcopal do Peru, em 1998, criticando a discussão da sexualidade nas escolas.

De lá para cá, veio um turbilhão de usos diferentes da estreia; desde a condenação do ensino de anatomia humana e biologia nas escolas, até a crítica aos movimentos defensores dos direitos das minorias. Alguns colocam mulheres e negros nesses pacotes, mas eles não são minorias no Brasil.

As mesmas palavras podem ser usadas para o bem ou para o mal. Por isso, quando me perguntam se eu sou favorável ou contra a ideologia de gênero, eu respondo com outra pergunta: - Qual delas?

 

Sérgio Antunes de Freitas

Novembro de 2021

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