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domingo, 12 de setembro de 2021

BRAZIL: IPÊS

 O CÂNCER E OS IPÊS

Sérgio Antunes de Freitas

Uma amiga me procurou para dividir uma ideia.
É o tipo daquela divisão que sempre frutifica, para ser coerente com o reino vegetal.
Para comemorar os trinta anos do Centro de Valorização da Vida – CVV de Brasília, onde é voluntária, pensou em uma festa simples, quando apenas seriam plantadas trinta árvores em algum lugar público.
Um ato comum, mas sempre simpático, por trazer mensagem clara de preservação da vida.
Em se tratando do CVV, mais clara ainda.
No desenvolvimento da conversa, pensamos em como obter e onde colocar as mudas. Coisa barata, mas carregadora de duas preocupações.
Em primeiro, seria necessária a permissão do Governo do Distrito Federal, caso fosse uma intervenção em área pública.
Em segundo, as espécies precisariam ter boa procedência, para se evitar as fitopatologias.
O primeiro problema, por sorte, foi resolvido em grande estilo. Após um simples telefonema, acertou-se o plantio em um hospital, ainda em construção, que tratará de crianças portadoras de câncer. É o Instituto do Câncer Infantil e Hospital Pediátrico de Brasília, uma iniciativa vitoriosa da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadora de Câncer e Homeopatias - Abrace.
A segunda solução foi mais fácil ainda!
Com outro telefonema e uma visita a uma arquiteta do Departamento de Parques e Jardins de Brasília, minha amiga conseguiu a doação de trinta ipês, nas cores que quisessem os responsáveis pelo jardim. Ademais, também seriam fornecidas todas as informações técnicas para o plantio correto.
Como ainda não há um projeto de paisagismo, o arquiteto, autor do projeto, e o engenheiro responsável pela obra acolheram o propósito com muita simpatia e disposição.
Como o edifício tem uma forte pintura amarela, pensou-se em ipês brancos e amarelos, para combinar com a arquitetura. A cada florada, haverá cartões postais de diferentes ângulos!
E, se tudo corre bem assim, só pode haver alguma conspiração, por conta do holismo.
Certamente, a natureza quer participar do processo terapêutico que será desenvolvido no hospital.
No meio do ano, os ipês carregam-se de flores e perdem todas as folhas. Depois de alguns dias, as flores caem e os galhos ficam à mostra, como se estivessem secos e próximos da morte.
Entretanto, lentamente, as folhas ressurgem e a vida continua ávida por novos desafios, enfrentando as intempéries, com experiência e saúde, cada vez mais.
Também os pacientes com câncer, depois de merecerem a atenção que merecem os ipês em flor, perdem todos os seus cabelos, em razão do tratamento quimioterápico.
Eles, também, verão seus cabelos ressurgirem aos poucos, recuperando a vaidade, a autoestima, a esperança.
Assim, com os ipês plantados junto ao parquinho infantil, haverá, durante alguns meses do ano, o exemplo da natureza, para o fácil entendimento infantil sobre as mudanças em seus corpos, simbolizando a própria ressurreição.
No momento, minha esperança é tão somente que a empreitada tenha êxito, cuja execução encherá meus olhos e meu coração.
E se não der certo, como escreveu o desenhista Henfil, “valeu pela intenção da semente”.
Sérgio Antunes de Freitas
10 de maio de 2009





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