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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

BRAZIL: [IN]SEGURANÇA ALIMENTAR Parte 3

 INSEGURANÇA ALIMENTAR: a fome, a tese e a moral da história.

Parte 3

Foto Marina da Silva.Belíssimo grafite de GUY. Belo Horizonte, Barro Preto. Infelizmente não existe mais.

Bem, foi como se tivesse sido arremessada contra a parede, não por um empurrãozinho leve, mas daqueles de deixar afundado o concreto tal qual acontece em desenho animado, filme de Superman. Assim me senti... quem me leu é um homem de peso, um escritor, filósofo, um professor para minha pessoa e a quem devo a caridade de ler meus textos e a bondade de fazer comentários sobre eles.

"É um desafio!"

Se topar não dá para sair uma meia-boca, serviço mal feito, coisa de diletante. Não é assim comigo! Ou faço direito ou não faço.

Mas se não topar, amarelei, fugi da raia, sou covarde, incompetente, enterrei a cabeça num buraco e enfiei o rabinho entre as pernas! Não, isso também não!

E este foi o dilema e o problema em que me meti ao escrever uma crônica sobre o acesso do brasileiro à comida, um tal risco de passar fome avaliado numa pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar em 2005/2006.

Peguei pesado, confesso. Meu lado masculino aflorado desde que entrei a tomar um inibidor de estrogênio, o hormônio da feminilidade, mas um potencializador do câncer de mama que tive em 2002. Menopausada, tamoxifenada; como essa desculpa não cola o jeito é me explicar para bom entendedor que ainda por cima pinga i, corta t e meia palavra só, não basta!

Foto Marina da SilvaBelíssimo grafite de GUY. Belo Horizonte, Barro Preto. Infelizmente não existe mais.

Então saiu a segunda crônica parte 2, [In]segurança alimentar: a mesma coisa de outro jeito e com cara de estorinha de ficção; embora qualquer semelhança seja a mais pura verdade ainda ficou com jeito de embromação.

Mas como falar da fome, fome mesmo, aquela miséria, mal indigno que avilta o ser humano, que mata o humano no homem e na mulher, que reduz todas as necessidades humanas à necessidade de sobrevivência diária, que nos leva de volta às árvores, meros símios indiferenciados?

Com ironia, sarcasmo, pena dura, para desmontar e por abaixo as possibilidades de maquiagem e manipulação de qualquer dado estatístico! Foi o que pensei ter feito, mas sem nenhuma maestria e qualidade nas duas primeiras tentativas.

Foto Marina da Silva.Belíssimo grafite de GUY. Belo Horizonte, Barro Preto. Infelizmente não existe mais.

E agora? O que é que eu faço? Minha fome é universal, atemporal, é um carecimento do ser. Assim como o ar é essencial a vida, o alimento também o é, e é a satisfação primeira que permite a expansão, o desenvolvimento de novas necessidades e o uso de todo o potencial humano.

Dezoito milhões de miseráveis ou cinqüenta e cinco milhões de indigentes ou quatorze milhões em insegurança alimentar grave ou setenta e dois milhões em qualquer nível de insegurança é um dado bruto, grotesco, espúrio e assustador para uma nação que exibe recordes de PIB, auto-suficiência em produção de energia limpa ou não (petróleo, gás natural, hidrelétricas, termoelétricas, eólica, solar, biocombustíveis), em produção de alimentos, em superávit na balança comercial.

Não há possibilidade, além da teórica, de se administrar - sem conflitos cada vez mais graves e freqüentes - crescimento e desenvolvimento econômico sem os atrelar e enlaçá-los simultaneamente ao crescimento e desenvolvimento humano.

 Foto Marina da Silva Belíssimo grafite de GUY. Belo Horizonte, Barro Preto. Infelizmente não existe mais.

Não dá para sonhar com o status de primeiro mundo europeu (Pós-segunda Grande Guerra durante o Estado Providência keynesiano), com aproximadamente 50% da população lutando todo dia para se manter viva no dia seguinte.

Não dá para tratar homens como animais, escória, gente de quinta categoria, cidadãos de segunda classe nem aqui nem lá nem acolá nem na China!

A moral da história veio-me através de minha filha, menina-moça de doze anos de idade:

"Quem passa fome mãe vai entender o que você escreveu, mas quem não sabe o que é fome fica difícil!" E ela está corretíssima e coberta de razão.

Foto Marina da Silva

Deve ser mesmo impossível, Maria Antonieta entender a revolução comendo brioches enquanto o povo faminto, conduzido e manipulado, deita por terra a bastilha, guilhotina o rei e sua rainha, abrindo as portas ao Terror que de assalto tomou toda uma nação: a França.1

 

 

Fonte

1. Sobre Maria Antonieta estudar: A Revolução Francesa.

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