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quinta-feira, 14 de maio de 2020

BRAZIL: INTRIGA DE QUARENTENA. Uma crônica

O  ESTRANHÍSSIMO CASO DO FIO DENTAL E  VIAGRA
Marina da Silva


Este caso tem poucos fatos, mas muita história, é o que diria, João Ubaldo Ribeiro - que Deus tenha a sua inteligentíssima alminha, desencarnada em 18 de Julho de 2015 -  na fenomenal obra Viva o povo brasileiro (2011): "O segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem Histórias."
De fato, se levarmos em consideração o golpe de Estado contra a presidente Dilma Rousseff, e especialmente  a condenação do ex-presidente Lula da Silva pelo juiz parcial e suspeito sérgio moro, é fato sabido e publicado e de domínio público que no processo por ele inventado tem muitas Histórias e pouquíssimos fatos.
Mas deixando as homenagens e devidas reverências ao escritor, que provavelmente morreu de "depressão política confessa", visto que neste Brasil, sem uma cachaça, caninha, aguardente, enfim, pinga com ou sem limão, ninguém segura o altíssimo grau de crimes, corrupção, roubo dos cofres públicos e desadministração da política e políticos brasileiros;bandidos que perverteram a oração  de São Francisco "pois é dando que se recebe" e criaram no parlamento nacional o "toma lá dá cá".
Me perdi de novo e quem não se perde com João Ubaldo não encontra nada de Histórias; dou-lhe neste momento o prometido caso  que veio perturbar minha leitura no meu sacratíssimo lar doce lar Quintana. Este é o nome do meu cafofo. Tenho mania de dar nome às coisas, um trem que tenho desde a infância.
Meu primeiro carro, um Fiat 147, cor de elefante na lama, se chamava Joca; o último que  eu amava de paixão, um Astra, nomeei de Trovão azul. E lá vou eu me perdendo na tarde fresca, nublada, cinza outonal...
Pois bem minha gente, este não é um caso para CSI, Law and Order, séries de detetives" que adoro. No máximo é um caso para A Patrulha canina ou Os detetives do prédio azul.
Foi assim: lá estava eu, linda, recatada, "dular", em total ISOLAMENTO SOCIAL imposto por lei, para combater a pandemia COVID-19 ou  novo coronavírus, lendo  uma super aquisição literária no meu Kindle paper white, um e-book, isto é, livro eletrônico, deitada que nem um saco de batatas jogada no sofá.
Ouvrés Completes de Guy de Maupassant: uma crônica deliciosa de título Madame Pasca. Abençoada aulas de francês no Estadual, anos Setenta e três semestres de aula de francês na Universidade. Leio bem o francês, mas é quase auto-didatismo.
Então soou uma campainha. Levantei para abrir a porta e apostando numa surpresa: ver minha filha, mas aí soou novamente e era o interfone do condomínio.
Oi.
Aqui é o M. da portaria. Quem está falando?
E eu:
Aqui é a dona M. do 710.
Aí o rapaz começou com uma história cheia de "a senhora me desculpa, ninguém está acusando a senhora... cheio dos salamaleques"
Meodeusducéu! O que fiz desta vez? Pensei não lembrando de nada. Da última deixei cair a garrafinha d'água aberta e inundei o elevador pouco depois da faxineira, uma senhora de uns 60 anos, ter acabado de limpar.
Já ia acionar a cde - caixa de desculpas esfarrapadas quando ele me informou:
A reclamação é da proprietária do 302.
Eu nem conheço a mulher. Respirei aliviada.
Ela é aquela que fica debaixo do apartamento da senhora, tem uma área verde externa debaixo da sua janela.
Eu quis corrigi-lo tipo: não é debaixo nem abaixo do meu andar, mas temi assassinar a Língua Portuguesa. Na dúvida acima não corrigi que era embaixo.
É uma queixa geral,  de todo lado par do edifício M.
Relaxei geral, são 20 andares a serem investigados. Deixei o rapaz se desculpar pelo incômodo e ouvi os pedidos de desculpa e desculpei. Moro em condomínio há séculos e sei que sempre sobra para os trabalhadores. Mas não me lembrei de nada que pudesse causar uma queixa, cantaria Raul Seixas, selada, registrada, carimbada, avaliada e aceita pela administração do prédio.
Ela queixa que alguém está jogando fio dental e Viagra na área de lazer externa dela.
Gente, caí na gargalhada.
Isto é sério? Fio dental e Viagra? Perguntei gargalhando alto e quase tendo um ataque de tanto rir. Ele riu discretamente coitado.
Pois é...
Na hora lembrei do João Ubaldo e do ID-Investigação Discovery. O rapaz estava na fase da investigação colhendo depoimentos dos moradores.
Olha, fala para ela que eu sou divorciada, escritora, uma senhora de mais de cinquenta quase sessenta anos. Eu uso fio dental e recomendo pelo menos uma vez, a noite. Ele riu.
E o mais importante: diga a ela que quanto ao Viagra, eu aceito, e peça a ela para mandar um homem junto. Nesta quarentena tá osso.
Nós rimos, ele se desculpou novamente, desligou.
Eu corri para a janela. Claro que eu já tinha visto o puxadinho da dona do 302 lá no terceiro andar. E foi quase um ano atrás quando me mudei e muito animada limpei as janelas. Faxina não é o meu forte.
Fiquei na verdade curiosíssima, não com o fio dental, que pode voar até ela do prédio ao lado, minha torcida era para descobrir quem estava usando VIAGRA no lado par, isto é, meu lado. Vai que... Pensei num Antônio Banderas. Jesus me abana!

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SALVE VIDAS!

Fique em casa, use máscara ao sair,  lave bem as mãos até antebraço e passe "alcoingel"* uai! Vamos derrotar este COVID-19! EU TÔ EM CASA!

* Alcoingel é a pronúncia mineirês, dialeto do estado de Minas gerais para Álcool gel

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