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sábado, 2 de dezembro de 2017

BRASIL: ALIENAÇÃO PARENTAL

ANNA LUÍZA

Resultado de imagem para violencia  domestica contra crianças alienação parental
www.google.com.br/images. Alienação parental é crime!


Marina da Silva

Ela tinha três meses de vida! Este era o tempo que a menina  Anna Luíza estava no planeta quando seu pai foi preso.
Foi a primeira informação que tive, em altíssimo e bom som ao celular, da mãe de Anna, que discutia, dentro do busão BRT, com o pai da menina.
Sentei-me atrás dela lá na traseira do ônibus; ao nosso redor vários homens de idades variadas, entravam e saiam nas estações.
O pai, Lucas, era um garoto "ostentoso" que gostava de marcas famosas, bonés, óculos espelhados -o azul lhe caia muito bem-  bermudas, camisetas, cordões de ouro e prata para pescoço, brincos e tênis da moda. Aos 19 anos, pai, foi preso com os amigos e solto dias depois por não ter antecedentes criminais e por ser filho de dona Aparecida, mulher de fibra que criava os filhos labutando em cozinhas de restaurantes na área hospitalar e muito respeitada em Xangrilá.
Todos são apaixonados pela primeira neta de dona Aparecida. Anna Luíza adora o pai e o pai adora a menina, mas o amor não foi suficiente para ele "tomar jeito" -acusa a mãe. Assim que ele saiu da prisão voltou para os "amigos" e para a "zoeira"!
A mãe da menina, mal completara quinze anos, ainda amamentava e já tinha seu homem na prisão.
"Nem isto consertou você! Voltou logo com os amigos!" Um lamento raivoso de uma menina ao celular, e aos berros, dentro do busão. Vagou lugar mais à frente no ônibus, mas a briga de casal chamou minha atenção e fiquei atrás dela.
"Se você acha que não está certo Vinícius levar sua filha para a creche é só pagar a "van do escolar". Resolve seu problema?"
Um drama tipicamente shakespeariano, Otelo, o mouro de Veneza2, onde as fofocas e o ciúme são o estopim de intrigas que podem levar à um fim trágico  qualquer Desdêmona.
"Vou procurar uma " van Escolar" amanhã, mas vou logo avisando: Dezembro e Janeiro não tem aulas e você vai pagar assim mesmo! Está bom pra você?"
Fez-se silêncio do lado de cá do celular da mãe! O pai falava alguma coisa grosseira - ouvi os berros, "desgraça" e outros palavrões.
"Se você quer reclamar de alguma coisa vá ao juiz véi!"3





Por Lalupa - Obra do próprio, GFDL, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3155470. Mitologia, Atlas é um dos titãs que revoltaram-se contra Zeus.


À estas alturas, um grupo de curiosos como eu, acompanhava interessadíssimos o drama do busão. Toda aquela desavença estava sobre às costas da pequena Anna Luíza como o Mundo sobre Atlas4. E tudo porque o atual namorado da mãe da menina, Vinícius, estava levando a garota de motocicleta até a escolinha como se "fosse o pai dela"!
Esta intriga chegou aos ouvidos de Lucas e posso ver Iago, o invejoso da tragédia de Shakespeare, destilando veneno sobre a família para atingir os pais.
"Eu já aviso para Anna Luíza: as coisas que passam aqui em casa fica aqui e as coisas que passam aí ficam aí!"
Pobre garotinha! Passara uma linda semana com o pai e avó e Lucas, que envenenado pelos boatos, futricas e falatório geral em Xangrilá, usou de pérfido ardil para subtrair informações da boca da própria filha.
Uma tarde no shopping com direito a presente; a menina ganhou uma roupinha do papai e ainda um super lanche. Feliz e desarmada, Anna Luíza deixou escapar, sem querer, que o namorado da mamãe a levara para a escolinha.
No mesmo instante em que as palavras lhe fugiam a menina levou aterrorizada as pequenas mãozinhas à boquinha, os olhos muito arregalados e enevoados pelo medo!
Papai estava realmente bravo e ia brigar com a mamãe e a culpa era toda sua! E o dia estava tão feliz... Imaginei a cena.
"Se você está preocupado com seu lugar de pai deveria ter feito por merecer!" Voltei ao busão, a mãe extremamente irritada com a boca grande da menina.
"Devia ter feito muito mais pela família, pela menina! Eu te peço alguma coisa? Eu levei o casamento sozinha por seis anos!" Acusa a moça.
De repente ela trocou o celular de orelha indignada com algo que ouvira de Lucas e vociferou:
"Se você me manteve eu também lhe mantive! A você e aos amigos que estavam lá em casa todos os dias e comiam e bebiam e nunca traziam uma única cerveja! Eu sempre trabalhei véi, desde criança, e me sustentei estes seis anos. Teve dinheiro meu também! Até a única boa viagem que fizemos quando fomos à praia você teve que levar o amigo e aquela piranha!"
Uma mágoa reprimida veio à tona na mãe da menina.
"Eu não nego não -falou irônica- fiquei com outros homens sim! Aprendi com você, meu professor! Olha aqui eu não tenho que dar satisfação da minha vida! Você é que devia se envergonhar de estar dando em cima de uma menina que tem o dobro da idade da sua filha! Doze anos véi?"
Choveu  mais palavrões do outro lado da linha!
"O assunto Anna Luíza acabou? É só pagar a van e você não vai precisar se preocupar com seu papel de pai da menina! E se tiver mais problemas vá até o juiz resolver! Não falta nada para minha filha!" 
Um breve silêncio...
"Você é quem começou chamar a desgraça e me acusar! Eu não deixei a menina passar uma semana aí? Eu sei que a avó cuida bem, eu sei que as tias cuidam da menina e eu agradeço sempre, eu reconheço. Mas manda a piranha devolver as roupinhas que ficou aí!"
Ambos agora pareciam mais calmos. De repente...
"Como matéria? Anna Luíza nem sabe o que é isto; ela só tem cinco anos! Só começam a chamar ano que vem para o primeiro ano, nem a lista das escolas saiu!" Anna Luíza fora provavelmente interrogada sobre o que faz na escola, quais matérias, quem ajudava no dever de casa...
"Hoje mesmo procuro um "Escolar" para o ano que vem! Ponto final. Olha aqui véi você é que dormiu torto e gozou mal gozado! Se não quer que Vinícius leve a menina pague a van e está resolvido!"
Eu me levantei para descer na estação central, não olhei para a moça, mas ainda vi os risos de vários homens sobre o "gozou mal gozado".
"Eu aturei muito de você; eu não preciso de dinheiro, eu tenho o meu dinheiro! Não me liga para assunto da sua filha mais, vá resolver no juiz! Quando chegar em casa eu vou resolver isto com a Anna Luíza do meu jeito. Já cansei de dizer que o que acontece lá em casa fica lá!"
Ah Infância4! Lembrei de mim, das crianças do planeta e de Graciliano Ramos à espera da surra, escondido entre as mercadorias da vendinha do pai; de tantas outras crianças, muitas  rezando debaixo da cama para a surra ser esquecida. Pobre criança!

www.google.com.br/images. Violência doméstica contra crianças...EU DENUNCIO!





Fontes:
1. Alienação parental."LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010. Dispoe sobre a alenação parental e altera o art. 236 da lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Art. 1o  Esta Lei dispõe sobre a alienação parental. 
Art. 2o  Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. 
Parágrafo único.  São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:  
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; 
II - dificultar o exercício da autoridade parental; 
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; 
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; 
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; 
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; 
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. "www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Otelo,_o_Mouro_de_Veneza Otelo, o Mouro de Veneza (no original, Othello, the Moor of Venice) é uma obra de William Shakespeare escrita por volta do ano 1603. A história gira em torno de quatro personagens: Otelo (um general mouro que serve o reino de Veneza), sua esposa Desdêmona, seu tenente Cássio, e seu sub-oficial Iago.[1] Por causa dos seus temas variados — racismoamorciúme e traição - continua a desempenhar relevante papel para os dias atuais, e ainda é muito popular. LEIA GRATUITAMENTE NO SITE http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/otelo.html

3. Véi é uma gíria adolescentre, redução da palavra velho.

4. RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: editora Record, 1993.

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