SOBE E DESCE GORDO
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Em um prédio que frequento às vezes, há vários elevadores.
Nas raras greves dos ascensoristas, é possível perceber que esses equipamentos, no modo automático, funcionam com muito maior eficiência.
Entretanto, os condôminos, todos representantes de órgãos públicos, mantém o modo manual durante o expediente comercial.
Uns dizem que há interesses de empresas terceirizadas por detrás da história. Outros dizem que isso é devido à empáfia dos poderosos, que querem ter alguém para apertar os botões por eles. Outros, ainda, dizem que se trata medida para proteger os empregos dos condutores dos veículos verticais.
Seria lógico que se treinasse os possíveis desempregados para outras funções ou os capacitasse para conseguir empregos melhores. Depois disso, o funcionamento automático dos elevadores passaria a ser mais econômico e eficaz, sem sentimento de culpa para ninguém.
Mas a realidade demonstra existir alguns infelizes que, acomodados ou sem perspectivas de melhora na vida, passaram a vida toda nessa profissão. E se aposentaram com salários desumanos. Sobe, desce, passa a vida! Sobe, desce, passa a vida!
Mas não é só isso que demonstra a falta de inteligência humana, diante de vícios como o consumismo, o hedonismo e outros.
Muitos observadores do uso abusivo dos veículos individuais na sociedade moderna criticam o fato de uma pessoa levar, em média, duas toneladas de recursos naturais para se deslocar por toda parte. Ademais, o gasto de combustível é também muito maior para deslocar essas duas toneladas, do que para transportar as poucas pessoas que vão dentro. É um descalabro racional e ambiental. Daí as inteligentes propostas de transporte público decente, aquelas elaboradas por profissionais habilitados.
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Eu sempre me lembro dessas críticas, quando chego a um dos elevadores do prédio citado e encontro, como ascensorista do momento, o Gordo.
Pra lá de 130 quilos! Dizem que as empresas de ônibus não querem mais vender passagens para ele. Querem cobrar frete!
Quando a porta se abre, a gente já percebe sua presença, pois não há aquele espaço generoso para se adentrar. Aparece, sim, um joelho gordo, dentro de uma calça azul marinho e justa, ocupando metade da porta. Parece até que o menisco vai sair pela costura.
O veículo tem capacidade para quinze pessoas, mas, quando ele está na pilotagem, o limite cai para doze vírgula cinco pessoas, ou seja, doze pessoas de peso moderado e um faquir, por exemplo.
Alguns passageiros avisam a que pavimento querem ir, dizendo o que há de mais conhecido no andar, em vez de dizer o seu número.
Quando um desses diz restaurante, o Gordo saliva!
Na última greve que fizeram, os ascensoristas conseguiram uma vantagem muito justa, e todos os elevadores foram complementados com tamboretes almofadados, para que pudessem trabalhar sentados. São peças estreitas, como aquelas de balcão de bar, porém confortáveis.
O coitado do Gordo só consegue se sentar com a metade glútea.
Imagino até que, no meio do serviço, ele peça para trocar de carro com um colega, cujo painel é oposto ao seu: - Aí, amigo, vamos trocar um pouco? Eu queria descansar a outra metade.
Certa vez, uma moça disse ter medo de subir com ele, pois o risco de o elevador despencar era maior, o que não é verdade, pois se trata do transporte mais seguro que existe. Mais até do que o avião!
Uma outra moça, na mesma conversa, disse que havia uma vantagem, quando o Gordo estava no comando, pois o veículo descia mais rápido. Isso também não é verdade, de acordo com a Lei da Gravidade.
Mas o Gordo é gente boa e não se importou com os comentários, como não se importa com outras brincadeiras.
Apenas uma vez ele se irritou pelo que se sabe. Foi num momento em que entraram mais uns seis gordos no carro que dirigia, talvez em razão de uma congregação gastronômica. O problema nem era o peso, mas o volume que ocupavam.
Então, um magrelo, sufocado lá no fundo da caixa, perguntou: - Este elevador tem marcha?
E complementou, zoando: - Eu acho que ele só sai de primeira. E se tiver tração!
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