Zoológico de nuvem
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José Silva
Deitado de barriga pra cima e olhando pelo vidro da janela, visitei o zoológico nas nuvens... Quanta variedade! Vi um jacaré bocão que logo se transformou em gato esfregando os pelos nas pernas da gente; agora é um elefantão, de tromba pra cima como chaminé. Olha lá uma arara e, perto da vaca é um tatu. Cá embaixo, um macaco... Claro que não conto o que o safado está fazendo.
Hei, olha lá um disco voador. A nuvem da frente deve ser uma ema ou será avestruz? Vejo aquele personagem do filme “O Nome da Rosa”, cheirando um rato de cemitério, esperneando seguro pela cauda. Lá na frente tem um bruxo conduzindo um camelo e um par de urubus cruza o céu sem bater as asas; agora é um velhinho narigudo tocando piano enquanto uma foca branca equilibra uma bolota de algodão de nuvem ou é algodão doce?
O mar azul do céu está ficando cinzento e vai derramar nuvem. Mas não, elas preferem continuar brancas e vão passando... Virando e revirando, rabiscando o céu.
Eu dou uma roncada e acordo vendo que o zoológico se transformou de novo e agora tenho um porquinho bem gordinho. Desliguei os olhos e me fixei no suíno que no meu cérebro faminto virou pururuca com arroz branquinho, couve e feijão tropeiro, e senti até o cheiro de torresmo carnudo. Êba, amanhã é quarta! E, agarrando de novo o rabicó do porquinho e como num passe de mágico salivando, os olhos do meu estômago enxergaram paio, calabresa, costelinha defumada, pezinho raspado e branquinho, orelha, língua e focinho, tudo mergulhando em borbulhas do caldo do feijão preto cheirando a louro.
Cinco ratinhos protestam... Seria falta de queijo ou presença de gato?
Tem psiquiatra doido, afirmando que tudo isso é invenção do nosso cérebro que, ao receber uma imagem-estímulo, procura nos seus arquivos algo parecido e que tenha lógica. O pior é que eles, o doido e cérebro acham, tenham ou não sequência lógica o que um ouviu e o que o outro disse que viu.
Não estou doido não, o Mickey Mouse está de cabeça para baixo. O azul penetra nas nuvens e aparece a bota da Itália.
As linhas se cruzam e tem cerol e se raspam! E lá se vai uma pipa vermelha solta da prisão. Um cavalo está olhando para uma Dona Grávida.
O céu está cheirando bife. Que vergonha! Estou pecando por gula. Não satisfeito, volto a olhar o céu e agora no menu, quer dizer no zoológico de nuvens, meu cérebro malandro, lê um dourado do mar e o transforma rapidamente em moqueca e pirão lá de Jacaraípe; molhinho de caldo de peixe e rodelas de banana da terra, tudo colorido com folhinhas deliciosas de coentro, lá do Berro D’Agua. Meu Deus pequei de novo...Mas é bom pá caramba!