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sexta-feira, 3 de julho de 2020

BRAZIL COVID-19: ALEGRIAAA. Causo mineiro

TIXICO
Zé Pi 


É isso mesmo.
O tio Chico da minha mãe era o TIXICO (com “x”) para nós oito ou dez irmãos na época.
Era um herói; não desses heróis que vêm da guerra ou de histórias de gibis e sim pela alegria que nos trazia toda vez que dava as caras. Suas caras também não eram comuns.
Uma cara de TIXICO tinha olhos azuis vibrantes vindos do céu e eram enfeitados por um par de sobrancelhas avermelhadas; o cabelão sarará cobria as orelhas onde numa delas guardava a bituca de pito de palha. O bigodão sapecado separava muito bem a ponta do nariz afilado. A cor do bigode tinha muito a ver com a baita binga, feita de tubo de lança perfume cheio de gasolina e numa das extremidades do tubo tinha o fuzil cuja roseta ao ser girada com o dedão, incendiava o pavio. Nossa Senhora da Piedade! Era um lança-chamas, daqueles dos filmes de guerra do Cine Brasil.
Tixico acendia o pito levando aquela fogueira perto dos beiços em bico e mesmo assim sapecava o bigode. A roupa dele era um par de precatas de couro cru que ele mesmo artezanava, calça de brim no meio das canelas e um paletó curto em cujos bolsos de fora ele guardava a binga e a cachopa de palhas bem escolhidas.
Tixico era lindo!
Por fora e por dentro só alegria. Palhaço, contador de estórias e inventor de rimas. Um encantador de crianças, ávidas de olhos e ouvidos. As estórias eram improvisos de acordo com a necessidade. Olha essa que já é de domínio popular:
Um de nós oito ou dez, de piriri carreirinha, com a carinha dodói, ficava no colo dele. Com um raminho de Maria-fecha-a-porta-que-o-boi-evém, prometia curar fazendo o movimento em cruz sobre a cabeça, rezando e, já mostrando o sorriso cheio de dentes amarelados de fumo:
-Eu ti benzo, eu ti curo que amanhã cê caga duro. E nós em coro:
-Amém.
Era uma gargalhada maravilhosa da platéia e do doente, já curado e com riso na cara.
Olhando em volta ele apontava para minha irmã mais velha:
-Cê também tá na gangorra? E ela tentando escapar:
-Eu não...Tá até difícil de sair os trôssos.Tixico não encerrava aí, não.
Pedia um copo d’água, tomava um gole e dava a sobra para ela decretando:
-Toma essa água e engole que amanhã cê caga mole. Todos:
-Amém!
Noutra vez Tixico foi detetive:
-Fuuum, que fedô? Eu não...Eu não...Eu nem...Nem eu. E todos nós de olhos arregalados aguardavam o esclarecimento do causo.
Pois bem, dizia ele:
-Não foi eu também não, e quem peidô tem uma pinta preta na palma da mão esquerda. Pelo menos dois ou três de nós conferiam as mãos e Tixico ria até enfiar a cabeça entre os joelhos. Assim chegavam a tarde e noite de mãos dadas, ao som de muitas risadas.
Nosso Tixico ia embora levando na cabeça os requerimentos de novas histórias ou, repetecos de outras tantas e, ele sabiamente deferia todos os pedidos.
Essas estórias não saem mais da minha infância sessentona e no meu coração mora Tixico.
Hoje entre paredes, as crianças e seus tabletes e smarth fones muitas vezes são vídeo conferentes entre os pais, parentes, amigos e sem perceber que numa família sempre ha um Tixico, cheio de estórias e risos para crianças.

Zé Pi ou José Silva

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