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sábado, 25 de agosto de 2018

BRAZIL:: Vede vida

MEA CULPA


 Marina da Silva

Culpada confesso.
A todos, a vós irmãos,
Deus oh Deus...
Prometeu; sou aquela acorrentada, eviscerada, 
morta a cada nanosegundo do dia
Renascendo, entranhas dilaceradas.
Vede rapinas
A dor surda dói na alma
Fruto do vácuo em que jogada, perdida me vi só
Quebrando pratos, copos, vidraças
Colocando fogo no enxoval, nas roupas
Nos discos long-play de telenovelas.
Precisava romper o silêncio, ouvir
Discutir a dor do frio na barriga, bambeza de pernas
Nó na garganta, falta de ar nos pulmões, ansiedade
Angústia, insônia, melancolia.
Morri. Dezenas, centenas, milhares de vezes
E o silêncio permanecia enquanto minhas pernas andavam bestas
Tentando resignificar a vida e me encontrar no vácuo.
Tanto silêncio meu Deus...
Explicações. Fico no vácuo gritando por que?
Insistir? Teimosia boba no silêncio agastador que nada diz tudo
sem olhos, gestos, palavras.
Preciso das palavras, o ouvido pede som das desditas  não
 ditas amaldiçoadas palavras
... o som não se propaga no vácuo.
E morri mortes à vácuo embaladas,
lacradas, etiquetadas: sem validade.
Lançada no espaço matéria comprimida o espírito ressentiu
Pesou, cresceu, voltou à Terra, surreal
Explodindo zilhões de palavras.
Minhas palavras me encontraram sozinha, vazia, oca 
E como palavras que ficam ficaram. Plenitude.
Eu, primeira pessoa masculina e feminina mulher-macho, dual
Bipolar múltipla em cada polo
Fincada na terra
Grave sem gravidade acelerada e desafinando virada do avesso
Sem verso sem rima
Viva, em primeiro lugar, para mim... vivo
Toda ouvidos para meu barulhos, gemidos, sussuro gritos
E palavras que doem, sangram, dilaceram
E são fontes de vida e de criação de novo novo
Não mais mendigo palavras
Dou-as quando, onde e para quem quero.
Silêncio vale mais que palavra, mas suspeita intriga
conspiração, traição, punição, estratégia de guerra
Fria biologicamente suja, covarde,
Indiferente, individualista, egoísta.
Não. Dizer não. Basta
Alto em bom som em todas as línguas
Aceito culpa um terço
Adão, Eva, a serpente
Mea culpa, Pai nosso, ave Maria, meia culpa
Desculpa, desculpo
Culpo

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