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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

BRAZIL ENEN: O QUE AS FAVELAS TEM?

TURISMO EM FAVELA


http://www.rocinha.org. 'Lindos visuais' e funk fazem parte do turismo nas favelas
Marina da Silva

Este fenômeno presente no Brasil e concentrado especialmente em São Sebastião, a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro podendo ser detectado ainda nos anos noventa do século passado, virou febre mundial tal qual a gripe suína! Cada vez mais empresas de turismo vêm oferecendo como opcional um city-tour extraordinário pelas favelas: “Visite a maior favela da América latina” é o convite orgulhoso da Exotic tours para uma observação in loco do modus vivendi dos moradores da Rocinha. Em 2010, sete operadoras de turismo exploram e disputam encarniçadamente os mais de 2000 turistas estrangeiros por mês que se tornaram aficionados por favelas, loucos para conhecer este parque temático inexistente em países do Primeiro Mundo.
“A pobreza destes locais é vista, frequentemente como atrativo, o que a torna um negócio rentável que angaria, clientes que querem ver a violência de perto” afirma o portal www.notícias.portugalmail.pt/. 
Resultado de imagem para turismo em favelas pacificadas
http://favelasantamartatour.blogspot.com.br/2012/04/nbs-lanca-projeto-riorio-e-convoca.html


Vários sites oferecem uma aventura em favelas brasileiras modelos: de pobreza, miséria, condições de vida sub-humanas, violência, truculência e opressão tanto de milícias pacificadoras oficiais ou não e narcotraficantes que controlam, gerenciam e parasitam a vida econômica/política/social e cultural dos pobres. O que pode ser mais emocionante do que acompanhar uma incursão BOPE no estilo Aqui e Agora na TV portuguesa SIC com direito a trilha sonora do filme Tropa de Elite I e um cadáver de bandido(?) no final? 
Famosos despencam aos montes para gravar vídeos alucinantes montando sets em favelas cariocas. O hit do momento foi dado por Beyonce e Alicia Keys, mas favela já serviu de cenário para o falecido Michael Jackson e a cinquentinha Madonna de Jesus e também está presente nas novelas! É viver a vida...

"Com o aumento da procura por visitas às favelas do Rio de Janeiro, guias alertam para o turismo degradante que algumas empresas promovem nas comunidades. Segundo eles, a prática não favorece a mão de obra nem a economia locais, mas geram exploração da miséria e informações erradas. Sites em inglês oferecem anúncios de pacotes a partir de US$ 29 para visita a favelas, principalmente a Rocinha, “a maior da América Latina”, e Santa Marta, “onde o vídeo do Michael Jackson foi filmado”."http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-05/guias-pedem-mais-incentivo-para-o-turismo-em-favelas-do-rio-de-janeiro

Para que fazer favela de cenário? Por que fazer turismo em favelas correndo o risco de “um perdido” ou uma bala perdida nos confrontos diários polícia-bandido? O que está por trás deste fenômeno que se espraia para o mundo? Curiosidade? Preocupação social, científica, filosófica, religiosa? Mera adrenalina?
www.google.com.br/images. O que Miriam Leitão, especialista em economia, ORGANIZAÇÕES GLOBO, está fazendo aí com essa gente que quer explorar e expropriar a vida e o trabalho do povo das favelas cariocas?



Com cerca de 1 bilhão de miseráveis a preocupação mundial voltada exclusivamente para o aquecimento global e suas consequências para o planeta deixa-se passar ao largo o crescimento inimaginável da pobreza neste século que apenas desponta: “A generalização espantosa das favelas é o principal tema de The Challenge of slums (O desafio das favelas), relatório histórico e sombrio publicado em outubro de 2003 pelo programa de Assentamentos Humanos da Nações Unidas (UN—Habitat)”. 
O turismo em favela vem servindo apenas para justificar a banalização e naturalização de uma realidade em expansão e denunciada: “as cidades do futuro, em vez de feitas de vidro e aço, como fora previsto por gerações anteriores de urbanistas, serão construídas em grande parte de tijolo aparente, palha, plástico reciclado, blocos de cimento e restos de madeira”. Em vez de cidades planejadas como Dubai “boa parte do mundo urbano do século XXI instala-se na miséria, cercada de poluição, excrementos e deterioração”. E as favelas de Dubai?

E “Quem foi que disse que miséria é só aqui?” A Índia segue o modelo carioca e oferece passeios em Dharavi, a favela cenário do premiado filme “Quem quer ser milionário?” No discurso daqueles que se enriquecem  explorando favelas e moradores está a importância e o dever ético-moral-social de dar ciência aos afortunados (que pagam em euro/dólar) dos perrengues pelos quais se sujeitam os favelados, o que também pode ser visto na piscina da varanda de hotéis, prédios ou condomínios luxuosos como está estampado na capa da revista Carta Capital de 27 de janeiro de 2010. Otimizando o potencial turístico, espertalhões se justificam  mostrando que favela é bacana e que há gente boa vivendo nelas contribuindo assim para desmistificar que favela só tem bandido e violência!

Bingo! “Quem está pensando que não existe tesouro na favela” e pode ser explorado? Sustentabilidade, responsabilidade social, ecológico e politicamente correto - o mesmo discurso aplicado à exploração e expropriação daqueles que vivem do lixo e no lixo (a grande maioria favelados)- é estendido para a capitalização turística de favelas, tornando banal, natural e insólito a convivência harmoniosa e mutualística entre ostentação e luxo extremo e os bolsões de miséria!

Favela é isso aí: hiperconcentração de riquezas em pequenas castas e expansão de párias e miséria em superfavelas nas Américas Norte (México), Central e do Sul, na Ásia e África. A atual fase de acumulação de capitais se dá com o uso de novas tecnologias, mas principalmente sobre a extração de mais-valia absoluta (uso intensivo de mão-de-obra barata) que se concentra aos milhões em favelas. Uma pobreza fisiologicamente criada, expandida, alimentada, estatizada, mantida  confinada nos bolsões miseráveis para garantir altas taxas de lucro aos capitalistas! 
O turismo atual é a forma de incorporar todo o potencial da miséria e justificar espacialmente o fenômeno. O que é, como surgiram, por que e para que existem favelas? No Brasil já possuímos uma explicação dada pelo prefeito carioca Eduardo Paes a uma revista: são fruto do “romantismo social” de políticos que permitiram e deixaram os pobres ocupar irregularmente, informalmente e ilegalmente as cidades. Esta promiscuidade e permissividade romântica dos políticos ajudaram os pobres, mas sujou a paisagem. E é dessa sujeira que se está obtendo (e quem sabe...lavando) muito dinheiro, um potencial ainda pouco explorado. Acredite...se quiser!

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