ENCONTROS NACIONAIS
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Sérgio Antunes de Freitas
Os órgãos públlicos federais se parecem, cada vez mais, com essas páginas eletrônicas da Internet que promovem o encontro entre pessoas.
As razões disso começam com um dogma dos servidores que tratam do orçamento da União: quem devolve dinheiro aos cofres públicos é incompetente. Consequentemente, se um órgão não gasta o dinheiro que lhe é destinado, de castigo, no ano seguinte, recebe menos recursos, se não houver outras variáveis políticas. Em vez de aplicar, o objetivo é gastar.
Junte a isso a vontade dos servidores de receber diárias. Em muitos casos, esse ganho é uma complementação salarial quase constante.
Há também a gostosura que é viajar em turismo. E de graça! Se tiver cartão de milhas, ainda acrescentam algumas a ele, para viajar com a família nas férias. Embora isso seja condenável, pois é uma forma de as empresas terem preferência, oferecendo vantagens indevidas para os servidores públicos, virou costume aceito até pelos órgãos de controle, cujos servidores também são aquinhoados com o procedimento.
Agora, vem a receita!
Em primeiro, deve-se criar um programa. Precisa de um nome chamativo e justificante. Por exemplo, Meu alimento, meu sustento.
A fim de se disseminar os métodos a serem usados na implementação do programa fundamental para o progresso do país, é promovido um encontro nacional, contornando-se facilmente a norma que proíbe viagens com muita gente.
Mas como atingir o máximo de colegas que deverão ser os facilitadores e multiplicadores em suas bases? Ora, criam-se os famosos polos regionais! Na região Norte, geralmente, a cidade eleita para ser um polo é Manaus, tradição que vem do tempo em que era vantajoso visitar a Zona Franca para comprar bugigangas. Na região Nordeste, qualquer capital serve, menos Teresina, pois não tem praia. Na região Sudeste, Rio de Janeiro, claro! Na região Sul, Floripa é uma boa, se não houver influência de gaúchos na história. No Centro-oeste, qualquer capital, menos Brasília, já que não beneficia, com diárias e passagens aéreas, os mais poderosos. Goiânia também não, por que é muito perto.
Teleconferência? Não, é muito impessoal, não tem calor humano.
É importante iniciar os trabalhos na segunda-feira, pois haverá a justificativa, exigida por norma ministerial, e todos poderão viajar no domingo à noite, recebendo uma diária bem econômica, já que não precisarão pagar almoço e janta nesse dia.
A empresa contratada para realizar o encontro, a um preço de quinhentos, seiscentos, um milhão de reais, prepara o material a ser distribuído na manhã de segunda, quando ocorrem as inscrições. Cada inscrito recebe uma pasta, com os dizeres: I Encontro Nacional de Gestores para a Consecução de Objetivos Econômicos e Sociais na Esfera dos Arranjos para a Nutrição Popular. Dentro, duas canetas esferográficas, um bloco de papel e um pacotinho de biscoitos de chocolate. A pasta se tornará, em futuro próximo, presente para o porteiro do edifício ou a empregada doméstica e servirá para guardar certidões de nascimento, carnês do INSS, fotografias da família.
Na segunda a tarde, na abertura, o dirigente máximo do órgão diz os jargões que se espera: que o encontro será um marco regulatório de uma nova gestão, que o orçamento não será impactado pelo encontro, que o órgão terá melhor governabilidade com os produtos esperados.
Durante os dias seguintes, nas reuniões, nas mesas redondas, nas oficinas etc., entrecofibreiques e apresentações culturais, os jargões serão repetidos por todos, entre profusos elogios à iniciativa, até sexta-feira de manhã, quando será lido e votado o relatório final, ficando a tarde livre para que todos possam voltar para os seus lares com tranquilidade.
Se alguém aventar a hipótese de que tanto dinheiro poderia ser destinado à saúde, à educação, à alimentação das crianças pobres do Brasil, será sumariamente eliminado dos próximos encontros, pois não sabe reconhecer a importância de uma ação tão relevante para o bom trabalho do governo.
Mas um fato é indiscutível: esses encontros, muitas vezes, propiciam relacionamentos sérios, como casamentos, mancebias, concubinatos.
"Dinheiro público:Transparência e controle social: Conferência elege delegados para encontro estadual" 13-02-12
"Representantes do poder público, sociedade civil e conselhos de políticas públicas reuniram-se na última sexta-feira (10) na 1ª Conferência Municipal sobre Transparência e Controle Social (Consocial) em Alta Floresta.
As conferências são promovidas em todo o Brasil. O movimento foi instituído pelo governo federal e coordenado pela Controladoria Geral da União. O objetivo da mobilização é estimular a participação da sociedade no processo de controle e acompanhamento dos investimentos públicos."
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