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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

BRAZIL. RESTAURANDO A DEMOCRACIA

 RESTAURO


Sérgio Antunes de Freitas

 

O verbo restaurar deveria ser reverenciado, quando usado em textos ou conversas. Ele chega a ser sagrado!

Isso porque ele vive principalmente em um templo, formado pelos círculos dos profissionais cuidadores do Patrimônio Histórico e Artístico.

E, quando demonstra seus dotes, deixa rastros de luminescência nas mentes dos artistas, estudiosos, sensíveis.

Vamos tomar um exemplo comum, uma casa antiga, na qual um vulto histórico nasceu ou viveu, tornada museu.

Os profissionais da área conseguem modernizar o imóvel, sem danificá-lo.

Em boa parte dos casos, sua aparência externa fica mantida, paredes, janelas, telhado, esteticamente coerentes com seu derredor urbano. Seu interior é reformado, para incluir instalações inexistentes, banheiros públicos e outros, com a máxima discrição.

Contudo, ao se dispor em demonstração as peças que remontam à vida do homenageado, a ambiência remete o pensamento dos visitantes à época em que ele viveu, reforçando as informações passadas por outros meios, de geração a geração.

No caso de obras de arte, muitas vezes, as tarefas de restauração são cirúrgicas. Exigem profundo conhecimento, zelo, atenção, paciência, respeito ao objeto.

Esse mesmo comportamento é demonstrado na medicina!

Há pessoas que sofrem acidentes horríveis e ficam desfiguradas. Os cirurgiões plásticos fazem não apenas um, mas dois milagres. Recuperam as faces dos pacientes e até as deixam mais bonitas.

Mais do que nunca, o Brasil precisa de restauradores.

Por anos, o país sofreu todo tipo de destruição, desmontes, aniquilamentos. Serão necessários esforços semelhantes aos “pós-guerra” e exigidos recursos humanos, financeiros, intelectuais, para a reconstrução material, social e cultural.

A invasão e depredação do Senado, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal foi o coroamento desse processo sórdido, executado, apoiado e urdido por maus brasileiros, maus políticos, maus cidadãos, no bojo de uma campanha odienta e odiosa.

Assim, houve ainda o arruinamento trágico das relações de afeto e amor, entre irmãos, entre pais e filhos, entre avós e netos, entre colegas, entre amigos, entre amantes até então apaixonados.

Por isso, vamos precisar de outros tipos de restauradores, tais quais os artistas, os músicos, os palhaços, os poetas, sábios reparadores de corações partidos.

 

Sérgio Antunes de Freitas

Janeiro de 2023 

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