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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

BRAZIL: Sérgio Antunes de Freitas, o cara!

A Síndrome do Cachorro

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Sérgio Antunes de Freitas

Uma das diferenças entre os povos desenvolvidos e os ainda bárbaros pode ser avaliada pela quantidade de pessoas que sofrem da Síndrome do Cachorro.
Quando se abre uma porta, o primeiro a querer sair é o cachorro. Ele enfia a cara como em uma greta ainda em abertura e só refuga se levar uma arranhada no focinho, pelas garras do gato com frio que quer entrar.
As pessoas com raciocínio cartesiano, para as quais não existem outras variáveis de análise que não sejam os vetores físicos e matemáticos, além das necessidades fisiológicas, sofrem dessa espécie de patologia.
Na fila do elevador, é mais do que lógico esperar as pessoas saírem, para depois entrar. É como trocar uma lâmpada! Em primeiro lugar, se tira a lâmpada queimada, para depois colocar a nova. Eureca!
Mas as pessoas devem pensar que o elevador vai subir sem esperá-las e não voltar mais. Então, peitam quem está saindo, pisam no pé do ascensorista, engancham o cabo torto do guarda-chuva na bolsa da madame mal-educada. E haja palavrão!
Mas não é só nos ambientes populares que isso acontece.
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Após o pouso, quando é aberta a porta do avião, os “senhores passageiros” querem ser os primeiros a sair, para ficar duas horas esperando as malas na esteira. Manda a boa etiqueta, para quem não sabe, que a preferência se dá pela ordem da numeração das cadeiras, ou seja, sai primeiro quem está na frente!
É como a água da garrafa! Em primeiro, saem os goles que estão na frente. Depois, sai a água do fundo, às vezes com depósito de sujeira. Se o depósito quiser sair ao mesmo tempo, é necessário chacoalhar o recipiente, Raramente isso acontece com o avião. Mas acontece, para o pavor de muitos como eu!
Essa síndrome é facilmente percebida no trânsito de veículos. Todos eles estão andando no limite da velocidade máxima, mas mantendo um ritmo de segurança. Aí, aparece o alfaiate alucinado, costurando para todos os lados. Se estivesse fazendo uma cueca, ninguém vestiria! Quando chega ao sinal fechado, todos param, mas só ele fica com a cara de macaco depressivo.
Também nas ruas e avenidas, encontramos aqueles que mais sofrem desse mal, os motoqueiros. Para eles, a doença pode ser mortal. Ou, com sorte, só dolorida.
Um amigo, quando era dessa cepa, me contou que esqueceu a perna no para-choque de um jipe, com sua moto em alta velocidade. Ele usou o verbo esquecer, porque, na hora que sentiu a perna subir, achou que só iria reencontrá-la em algum local de Achados & Perdidos. “Legal, Mano? Apareceu alguma perna cabeluda, com uns vinte e seis anos de idade e um calombo na canela?”
Uma variante dessa moléstia para o público infantil é a Síndrome do Gato, cuja teoria é: se passou a cabeça, passa o resto.
Geralmente, acomete os baixinhos nos corredores de feiras livres e assemelhados pelo acúmulo de gente. O baixinho taca o chifre na frente e vai dando ombradas nas pernas dos outros.
E os pais tentando não perder de vista o possuído!
O diagnóstico também pode ser feito nas portas giratórias dos bancos, aquelas geringonças que instalaram para dificultar a entrada de clientes, digo, dos ladrões. Já não chega ter que tirar chave, celular, carteira com moedas, cinto com metal, tornozelo mecânico, restaurações dentárias com liga de ouro, pino na bacia etc., ainda somos empurrados por uma pessoa forte e apressadinha do outro lado do cilindro mágico.
Outro dia, dei quatro voltas para entrar e cinco para sair da agência. Zonzo, me apoiei no coldre do agente de segurança. Sem problemas, eles não portam armas mesmo!
Lembrando, ainda existem os fura-filas!
A consequência de todo esse mal é que, quando estamos no meio da manada em estouro, acabamos por somatizar essa síndrome.
E salve-se quem puder!

Sérgio Antunes de Freitas
19 de fevereiro de 2016


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