MORREU HOJE NA MADRUGADA JOÃO UBALDO RIBEIRO, UM DOS MAIORES ESCRITORES DA LITERATURA BRASILEIRA E MUNDIAL. OS BLOGS Marina da Silva estão de luto! E quero homenagear João Ubaldo com uma pequena crônica que escrevi inspirada em sua fase "Depressão política".
www.google.com.br/images. Que Deus lhe receba em Seus Braços!
DEPRESSÃO POLÍTICA
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Marina da Silva
Foi a justificativa que apropriei de um escritor, o nome me foge a
memória neste instante*, e dei ao TRE - Tribunal Regional Eleitoral para justificar a ausência nas últimas
eleições.
_ A senhora tem algum motivo para não ter comparecido à eleição?
Sorri.
_ Ter, até que eu tenho; uma boa desculpa, mas acho que para o TRE não
justifica.
A moça ao contrário do esperado pediu para ouvir a explicação que eu
tinha.
_ Depressão política! E lhe contei que pegara esse diagnóstico de um
famoso autor brasileiro, João Ubaldo.
A menina ficou curiosa para saber que doença era aquela e que sintoma
tinha. Então lhe contei que desde 1989 – minha primeira eleição, a primeira
democrática para presidente do Brasil desde a ditadura – a empolgação com a possível
vitória de Lula e a forma vergonhosa como se portaram os políticos teleguiados
pela mídia me deixaram para baixo, muito deprimida. Caí numa descrença e
tristeza generalizada com a política e políticos que se mantêm firme desde
então.
_ Não acredito em mais nada e em ninguém! Roubei a fala de Cinderela e azar geral, não tenho uma
fada madrinha _ Não voto desde então...
A funcionária me ouvia atenta.
_ E a senhora justificou todas as vezes em que não votou?
_ Não. Acho que não. Nunca justificara ou não me lembrava ter justificado
alguma.
_ A senhora votou em 199...
_ Ah! É mesmo! Tinha esquecido a pressão feita por uma irmã sindicalista,
cobrando-me responsabilidade com o destino do Estado.
_ Incrível! Se lhe contar você não acredita! Lembra da eleição em que a
gente teve que escolher entre Hélio bosta ou ébrio Garcia? Espremeram-me contra
a parede, mas votei nulo. Não dei conta do absurdo!
Aí lembrei que votara em senador. Fui pressionada pela escola da filha
que estava estudando a importância de se viver na democracia e exercer, votando, a cidadania. Dei exemplo, levei
a menina de seis aninhos para conhecer a urna eletrônica e apertar os botões da
geringonça que até passa por um brinquedinho.
_ Mas o Lula ganhou e se reelegeu?
_ Pois é, mas outros crimes se juntaram ao caso Morel, Coroa Brastel, ao
escândalo das jóias_ lembrei uma canção _ Vieram as CPI’s: anões, correio,
frango, mensalão, sanguessugas...Ah, até do lixo! Só de ouvir a palavra CPI
fico deprê, além de pê da vida! Tenho coceiras pelo corpo, desenvolvi uma
alergia.
_ Não apuram nada! A funcionária do lado ouvindo a conversa e palpitando.
Abanei a cabeça concordando e percebi que mais pessoas estavam nos
escutando.
_ Eu odeio propaganda política! A mulher do lado me confidenciou.
_ Tome cuidado! Sussurrei cúmplice _ Essa doença minha é contagiosa.
Atualmente quase não consigo ver TV; só a cabo, desenho e novela. Jornal me
deixa estressada e nem sei o que mais me deprime: saber da corrupção ou saber
que CPI é só embromação!
_ É a vida! Ela encerrando o assunto, meu nome limpo na justiça.
_ É, é mesmo, é a vida. Repeti autômato sem estranhar a naturalidade com
que me conformava com essa estranha vida. Realmente - conclui - Ando mesmo muiiiiiiiito
deprimida!
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