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terça-feira, 9 de agosto de 2011

O CIRCO O CIRCO EU AMO OS PALHAÇOS!

PALHAÇADA!
Sérgio Antunes de Freitas
www.google.cocom.br/images. "Velho Chaplin: as crianças do mundo te saúdam. Não adiantou te esconderes na casa de areia dos setenta anos, refletida no lago suiço. Nem trocares tua roupa e sapatos heróicos pela comum indumentária mundial. Um guri te descobre e diz: Carlito CARLITO - ressoa o coro em primavera". Carlos Drummond de Andrade.

Muitos têm frustrações profissionais e eu não fujo a essa regra.
Eu queria ser palhaço de circo, pois sempre acreditei que não há destino mais feliz do que tornar as crianças felizes.
Eu e um amigo chegamos a montar uma dupla de palhaços, na teoria, mas com algum planejamento e até o ensaio inicial de algumas pequenas peças.
A dupla se chamaria “Tristeza e Agonia”.
Meu amigo, também poeta, como manda a vida desses seres inexplicáveis, morreu cedo, antes de nossa estréia sempre postergada por falta de picadeiro, roupas, maquiagem e tudo mais.
Até hoje, eu não sei quem morreu, se foi o Tristeza ou o Agonia.
Por isso esta minha constante crise de identidade!
Por conta dessas condições, não vacilei, quando um maltrapilho se achegou em uma mesa de bar, onde eu e outro amigo tomávamos uma cerveja, e se apresentou como palhaço desempregado, esmolando alguma ajuda.
Eu ia desafiá-lo a fazer algo que comprovasse sua profissão, mas seus olhos me dissuadiram.
Nós o convidamos para tomar um copo de cerveja e ele disse, com voz fanhosa e falha, que aceitaria “só um, por educação, como minha mãe me ensinou”!
Conversamos sobre o mercado de trabalho para os profissionais circenses e foi possível observar que o sujeito, embora de nível médio, tinha uma formação cultural considerável.
Terminado o copo único, ele se levantou, agradecendo. Eu o convidei para tomar a saideira. Ele se sentou novamente, se desequilibrou e caiu ao chão, com as pernas pra cima.
Eu e o meu amigo nos levantamos para socorrer rapidamente o artista, porém, ele se levantou sozinho, sorrindo, e disse: - Essa é a paga pela cerveja saborosa. Foi o primeiro número que eu aprendi na vida.
Rindo, assim como os vizinhos das mesas, tomamos o último copo. Ele aceitou uma ajuda para o ônibus e se foi, balançando o corpo e fingindo usar suspensório.
Engraçado, e esta palavra é perfeitamente cabível, é que o palhaço maltrapilho, cujo nome artístico era Chanha (sinônimo de coceira, segundo ele), falando de sua vida, disse com palavras próprias aquilo que muitos outros, como Chaplin, já disseram de diversas formas mais elaboradas.
Na primeira fase da vida, o palhaço busca o dinheiro, almejando sucesso para um possível enriquecimento. Só consegue, quando consegue, sobreviver desse trabalho.
Na segunda, mais maduro, contenta-se com a sobrevivência, mas busca mesmo os aplausos que alimentam sua alma.
Na terceira, depois de uma apresentação, nem espera mais os aplausos, pois seu espírito já se satisfez com os risos e os sorrisos da platéia.
Outra faceta comum a esses seres é a capacidade de transformar suas tragédias em piadas, como a que o Chanha nos contou em verso:

Escuta aqui, seu Mané!
Isto, sim, é palhaçada.
Dizem que sou ladrão de muié,
Mas a minha é que foi roubada.

Agora, se você ainda não deu... dá uma risadinha, dá?

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